Os meus primeiros contatos com a obra do diretor Fauzi Mansur, na época do garimpo em VHS, um dos poucos guerreiros brasileiros que ousaram trilhar o gênero do terror.
Karma – Enigma do Medo (1984)
No século 19, pessoas são eliminadas por bandidos numa casa de fazenda. Cem anos depois, o local foi transformado num hotel-fazenda, onde se reúnem diversos hóspedes que são a reencarnação das vítimas e criminosos do passado. Fenômenos estranhos começam a acontecer.
Ritual Macabro (The Ritual of Death – 1990)
Raro e valioso livro contendo informações sobre antigos rituais indígenas de pajelança é roubado por integrantes de grupo de teatro. Eles planejam encenar uma peça baseada nos textos, mas durante os ensaios um dos atores é possuído e começa a eliminar os demais, enquanto seu corpo se deteriora.
O VHS de “Karma…” foi resultado de um dos muitos garimpos que eu fazia no mercado popular da Uruguaiana, um clássico do Rio de Janeiro. Neste dua, conheci o trabalho do diretor Fauzi Mansur, um dos grandes nomes da Boca do Lixo.
A imagem que guardei daquela sessão foi o espírito mostrado sempre em negativo, um recurso que garante alguns bons momentos, o único ponto positivo que posso salientar. Infelizmente, em revisão, foi muito difícil chegar ao final, o que não é um bom sinal, considerando que são apenas oitenta minutos. As péssimas atuações e uma montagem confusa acabam transformando a experiência em algo praticamente insuportável.
A trama, ainda que simplória, só é mais ou menos compreendida quando você lê a sinopse. Vale, sem dúvida, como curiosidade, já que se trata de um slasher nacional, especialmente em seu terceiro ato, quando deixa de lado as convenções dos filmes de casas mal-assombradas e abraça a violência generalizada.
“Ritual Macabro” não foi lançado em VHS no Brasil, mas consegui na época em uma versão alternativa. Um projeto feito por Mansur visando o mercado internacional, rodado em São Paulo, com o elenco ditando todos os diálogos em um inglês “the book is on the table” bem sem vergonha, mas, por incrível que pareça, o resultado é bastante superior.
O filme, desconhecido por aqui, conquistou um espaço nas rodas de fãs norte-americanos do gênero, tendo recebido boas críticas em sua estreia. O importante é que o roteiro consegue estabelecer uma aura eficiente de pesadelo, com algumas sequências visualmente impactantes, como a cena apimentada na banheira, onde o casal se suja com o sangue que verte da cabeça de uma cabra real, ao lado de um índio espectral fazendo uma dança exótica.
É o tipo de material doentio e revoltante que apenas um realizador completamente irresponsável, no melhor sentido, poderia pensar em conduzir. O filme só ganha pontos nos momentos em que o gore domina, razão pela qual o projeto recebeu classificação X nos cinemas norte-americanos. Há cenas que me remeteram aos trabalhos de David Cronenberg, não tanto pela competência técnica, mas sim, pela criatividade insana.
Estes filmes nunca serão lançados em DVD, mas, em uma procura rápida, podem ser encontrados completos na internet. E pensar que fiquei semanas aguardando para receber a cópia em VHS de “Ritual…” na época. Como é fácil ser garimpeiro cinematográfico hoje em dia…
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