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Entrevista com Rafael Spaca, autor do livro: “O Cinema dos Trapalhões”

Em mais uma entrevista exclusiva para o “Devo Tudo ao Cinema”, converso com o escritor Rafael Spaca, responsável pelo livro: “O Cinema dos Trapalhões – por quem fez e por quem viu”, que promete preencher uma grave lacuna, já que os filmes do quarteto sempre foram desprezados por grande parte da crítica, ainda que amados pelo público.

O – Rafael, como o cinema dos Trapalhões impactou sua vida?
Disserte sobre sua experiência pessoal com os filmes do quarteto (o primeiro
que assistiu, o mais marcante e a razão). E como nasceu a ideia de preparar
esse livro?

R – Os Trapalhões contribuíram, juntamente com outros
elementos e referências que tenho, para influenciar minhas escolhas
profissionais. Eles promoveram grandes experiências sensoriais na minha
infância. O impacto foi de tal maneira que me motivou a escolher esse caminho
(da produção e da pesquisa cultural) como meio de vida. Minha primeira ida ao
cinema, levado pelos meus pais, foi para ver “Os Trapalhões e o Rei do
Futebol”. Com as exibições na televisão e a chegada do videocassete, consegui
acompanhar toda a filmografia deles.

Esse livro nasceu da vontade de preencher uma lacuna: a
bibliografia relacionada aos Trapalhões é ínfima perto da importância que eles
possuem na nossa história fílmica.

O – Durante muitos anos a crítica silenciou a respeito
desses filmes. Como você analisa essa reação de parte da crítica com os filmes
populares?

R – A crítica não silenciou, ao contrário, ela esculachou os
filmes dos Trapalhões.

Hoje, com o distanciamento histórico, e com uma nova geração
de críticos que não possuem um olhar enviesado para o popular, os Trapalhões se
tornaram cults. Acredito que em breve serão reavaliados em festivais e mostras
de cinema pelo país.

O – É uma pena que muitos ignorem a importância de Dedé
Santana nos bastidores. Ele atuou como diretor informal em alguns filmes, tendo
aprendido com J.B. Tanko e Adriano Stuart, além de dirigir oficialmente alguns
projetos, como “A Filha dos Trapalhões”. Aborde essa faceta pouco
comentada dele, com base nas pesquisas que realizou para o livro.

R – Dedé Santana é um artista nato. Natural do circo, a arte
corre em seu sangue. Leva até hoje todo o conceito do circo para a sua vida:
alia talento com esforço, dedicação e a paixão pelo ofício. Transitou em quase todas
as áreas do cinema. Chegou a produzir filmes na Boca do Lixo de São Paulo. Além
de ser considerado o maior escada de todos os tempos, com sua vontade de fazer
acontecer, chegou a dirigir filmes dos Trapalhões, e se saiu muito bem. Ainda
hoje sua importância é subestimada.

Sem Dedé Santana nenhuma piada nos Trapalhões teria o efeito
que tinha. Ele é um dos gigantes da nossa comédia.

O – É comum dizer que Zacarias, o Mauro Gonçalves, era o
grande ator do grupo, até por ele ter sido o único que realmente encarnou um
tipo caricato. Mas poucos entendem que Mussum, com sua naturalidade fantástica,
fazia algo também muito difícil. Dedé, o escada, um dos trabalhos mais difíceis
para um ator. O comediante é sempre desvalorizado, ainda que faça o mais difícil. Marlon Brando, por exemplo, não conseguiria fazer
“escada” com a competência de Dedé. Como você analisa cada membro do
quarteto, no que tange a atuação deles, especialmente nos filmes.

R – A comparação feita no Brasil sempre é feita para nivelar
(por baixo), simplista demais. A análise tem que ser muito mais complexa do que
nominar bom ou ruim. O que seria dos Beatles e dos Rolling Stones sem um ou dois
dos integrantes da sua base? Certamente a nossa percepção seria outra a
respeito deles.

Os melhores filmes dos Trapalhões, à exceção de “Uma Escola
Atrapalhada”, têm os quatro no elenco. Ou não?

O – Qual diretor que trabalhou com o grupo você considera
que agregou mais qualidade à filmografia deles? Disserte à vontade sobre as
razões.

R – São dois. J.B.Tanko pelo tempo da parceria, pelos
clássicos que realizou e pelo conceito de cinema e de linguagem que atrelou aos
Trapalhões, e José Alvarenga Jr., um iconoclasta que ousou desafiar certos
tabus (como a questão da afetividade, do relacionamento amoroso do personagem
Didi nos filmes) e deu um sopro de energia e de magia nos últimos filmes do
quarteto.

O – Já na fase final dos filmes, o product placement foi
ficando cada vez menos sutil, assim como deram espaço para a participação cada
vez maior de grupos musicais como Dominó e Polegar, além de participações nada
gloriosas de figuras como Gugu e Conrado. Como você analisa o envolvimento
desses artistas nos projetos? Desses últimos filmes, quais são os que você
considera que tenham sublimado esses obstáculos mercadológicos (e a razão)?

R – O ingresso destes artistas com apelo no público jovem
foi para manter e também atrair mais público nas salas de cinema. Os Trapalhões
começaram a dividir o protagonismo. Não gostei dessa estratégia. A mim sempre
causou um estranhamento. Na minha visão eles eram autossuficientes o bastante
para utilizar este tipo de expediente.

É possível notar no roteiro que a história ganha uma gordura
desnecessária para atender a mais personagens na história do filme. O público,
em sua maioria, não reclamava e isso se tornou um padrão.

O – Tem alguma história divertida/curiosa dos bastidores de
sua pesquisa, do contato com os artistas para o projeto do livro?

R – O que mais me emocionou durante a produção deste livro
foi o engajamento dos profissionais que se dispuseram a falar comigo. Todos,
sem exceção, demonstraram grande satisfação ao saber que estava a caminho um
livro a respeito dos Trapalhões. Me ajudaram indicando profissionais e assim
fui construindo uma rede de contatos que me permitiu entrevistar mais de 130
profissionais.

Uma curiosidade: o livro terá dois álbuns de fotos. Essas
imagens foram cedidas pelos próprios entrevistados que disponibilizaram o seu
acervo para compartilhar com os leitores. Muitas imagens são raras e inéditas.

O – Qual você considera que é o maior legado do quarteto
para o cinema nacional, não na questão da bilheteria, já muito explorada, mas no
que tange a qualidade do conjunto de obra?

R – Os Trapalhões mantiveram acessa a chama do cinema
nacional. Criaram postos de trabalho, revelaram talentos, formaram plateias,
criaram o hábito de ir ao cinema em milhares de pessoas.

Agora, pra mim, o mais significativo: fizeram um cinema para
a família.

O – Os meus três filmes favoritos dos Trapalhões são: “Cinderelo
Trapalhão”, “Os Saltimbancos Trapalhões” e “Os Trapalhões no Auto da
Compadecida”. Quais são os seus três filmes favoritos do grupo (e a razão)?

R – “Os Trapalhões e o Rei do Futebol” por marcar minha
primeira ida ao cinema. “Os Saltimbancos Trapalhões” e “Os Trapalhões nas Minas
do Rei Salomão”. Eles estavam no auge nestes dois filmes.

O – Rafael, por gentileza, deixe uma mensagem final para os
meus leitores, e, fique à vontade para divulgar os eventos de lançamento do
livro.

R – O livro “O Cinema dos Trapalhões – por quem fez e por
quem viu”, sairá pela Editora Laços. Faremos dois lançamentos no mês de abril.
Um em São Paulo (https://www.facebook.com/events/1194204233967168/)
e outro no Rio de Janeiro (https://www.facebook.com/events/1661941954058570/).

Convido todos os leitores a irem ao lançamento. Será uma
grande oportunidade de encontrar ou reencontrar muitos profissionais que
ajudaram a construir a história do grupo.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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Octavio Caruso

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