Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando! (The Russians are Coming! The Russians are Coming! – 1966)
O atrapalhado capitão de um submarino russo deixa a embarcação encalhar nos bancos de areia nas proximidades de uma ilha da Nova Inglaterra, na costa estadunidense. Ele encarrega seu imediato, o tenente Rozanov, de liderar um pequeno comando para conseguir secretamente um barco para puxar o submarino e desencalhá-lo. Os marinheiros saem em busca da tal embarcação, mas se metem em confusões que colocam em pânico os habitantes da pequena cidade, e logo um boato sobre a invasão russa e uma possível 3ª guerra mundial, toma conta de todos.
No auge da Guerra Fria, com a máquina propagandista alimentando diariamente a cultura do medo, o povo norte-americano era instruído sobre como se proteger de uma explosão nuclear em vídeos educativos nas salas de cinema.
A lucidez era algo quase inimaginável, o que engrandece ainda mais o esforço corajoso do diretor Norman Jewison, que ousou fazer rir com uma trama em que os russos não eram mostrados como vilões unidimensionais. Pela primeira vez, eles eram mostrados conversando em sua língua no cinema. Focando em personagens comuns, dos dois lados, que acabam descobrindo com a convivência forçada o quanto são parecidos, o filme nos remete à abordagem de John Hughes sobre a juventude em “Clube dos Cinco”. Assim como na comédia oitentista, os personagens aprendem que a união é sempre a melhor solução.
O crédito de abertura já mostra uma batalha entre bandeiras, emoldurado por uma trilha que contrapõe Song of the Volga Boatmen e o Yankee Doodle Dandy, dando de início o tom absurdo da trama. É interessante salientar que o cinema, apesar de refletir, por vezes, de forma brutalmente honesta a sociedade, também pode servir como um elemento transformador.
Ao expor no roteiro, pelo viés cômico, a histeria norte-americana com relação aos russos, que eram demonizados pela própria indústria por mais de vinte anos, o filme colaborou para uma essencial mudança de atitude. “Dr. Fantástico”, de Kubrick, realizado dois anos antes, deu relevante abertura para esta abordagem, mas Jewison fez uso do humor com mais eficiência e de forma mais direta, em um projeto popular de maior alcance, potencializando a crítica. Muitas produções tentaram imitar essa hilariante obra, sem sucesso, pois deixaram de fora o elemento mais importante: a ternura com que trabalha todos os personagens.
Recomendo fazer uma sessão dupla com “O Rato Que Ruge”, excelente comédia protagonizada por Peter Sellers, com temática similar.
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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