Lili (1953)
Uma jovem órfã (Leslie Caron) francesa é adotada por um circo, quando fica sozinha em uma cidade e acaba se apaixonando pelo mágico (Jean-Pierre Aumont), que a vê apenas como uma menina.
É ótimo que esta edição lançada agora em DVD pela distribuidora “Obras-Primas do Cinema” resgate a clássica versão dublada, com Leslie Caron na voz da grande Nair Amorim, o que facilitou tremendamente no fator da nostalgia, trazendo de volta a mesma emoção, com um filme que eu não via desde aquela época.
A linda canção “Hi-Lili, Hi-Lo”, que embalou minha infância na versão cantada por Gal Costa e Trem da Alegria, tem uma aura de pureza e sonho, aquela elegância que o mundo moderno substituiu pelo cinismo.
O filme, dirigido pelo especialista em leveza: Charles Walters, de “Alta Sociedade”, “Desfile de Páscoa” e “Ciúme, Sinal de Amor”, consegue inserir toques sombrios, como a tentativa da protagonista dar fim à vida logo no início, em um contexto que se assemelha ao de um livro infantil, mas sem o melodrama forçado que se esperaria após a leitura da sinopse.
Caron encanta como a adolescente ingênua Lili, que acaba de perder os pais e precisa compreender sua pequenez diante dos conflitos da maturidade que se vislumbra no horizonte.
Mel Ferrer, como o titereiro que se apaixona por ela, transmite nos olhos a gentileza que foi suprimida por sua experiência traumática na guerra. Ele esconde seus sentimentos por trás dos bonecos, o lúdico da criança que ele extirpou como forma de proteção. E a jovem promove inconscientemente esse reencontro.
Lili enxerga nos bonecos o acolhimento parental recentemente perdido, ela enxerga além da mão que os manipula, a sua docilidade intocada pela hipocrisia adulta os transforma em seres vivos, um dos elementos mais bonitos do roteiro.
Na sequência musical onírica do terceiro ato, em que os bonecos efetivamente ganham vida, a protagonista tenta lutar contra seus impulsos românticos, símbolo da maturidade, enquanto se afasta daquele universo que a havia abraçado. Cada boneco tem a chance de uma última dança, antes de tomar a forma do titereiro e se fundir aos passos já trilhados no caminho.
A poesia nesse momento é das coisas mais lindas que o cinema mostrou na década de 50. E vale ressaltar que a coreografia nesta cena, inicialmente comum, vai se tornando cada vez mais provocante, uma representação óbvia de que a menina está se permitindo tornar mulher.
A imagem do desfecho me emocionava na época e me emocionou nesta revisão. É simples, mas poderosa em sua simbologia.
Trecho com a canção-tema, composta por Bronislau Kaper e Helen Deutsch:
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