A Assassina (Nie Yin Niang – 2015)
Uma assassina profissional precisa escolher entre o amor e o dever quando recebe ordens para matar o próprio primo, por quem é apaixonada.
Quando eu me lembro de “Barry Lyndon”, uma das obras-primas de Kubrick, as imagens se sobrepõem à trama, fortes e de uma beleza de se admirar de joelhos. O mesmo ocorre com esta preciosa incursão do taiwanês Hou Hsiao-Hsien no gênero wuxia, uma mistura de fantasia com artes marciais, subvertendo as expectativas de todos ao abraçar respeitosamente a tradição sem perder contato com seu estilo contemplativo.
A ação, quando ocorre, é abrupta, turva momentaneamente a água de um rio plácido, gestos rápidos e frios, anti-ação, porque o interesse do diretor está nos sentimentos dúbios que movem os personagens em seu cotidiano, não nos consequentes impulsos imediatistas. Os confrontos, doce ironia, são coerentes à realidade intensa destes guerreiros, altamente precisos e ágeis, sem a glamourização excessivamente elaborada, visando empolgação e não reflexão, que o cinema consagrou.
Vale ressaltar que a narrativa não simplifica estes sentimentos com diálogos expositivos, o roteiro pede que o público absorva com dúvida a informação fornecida, já que as poucas palavras ditas parecem contrastar com o que nos transmitem os rostos enigmáticos, que lutam para encontrar alguma emoção possível em meio ao caos, um desconforto constante realçado na tensão criada pela impecável trilha sonora.
Esta escolha por superestimar o interesse do olhar do outro, como boa parte da crítica corrobora, resultou em um produto que será tido por muitos como insuportavelmente lento, especialmente aqueles que, estimulados pelo título e desconhecendo os trabalhos anteriores do diretor, esperam um convencional espetáculo de violência.
O estudo dedicado sobre o período da dinastia Tang, pesquisa que se reflete na primorosa direção de arte fiel à arquitetura e ao estilo de vida, serve à adaptação do conto “Nie Yinniang”, de Pei Xing, como um estofo de realidade que inteligentemente evidencia ainda mais os elementos utópicos, com a fotografia de Ping Bin Lee, do inesquecível “Amor à Flor da Pele”, atuando em vários momentos de forma subjetiva, como se enxergasse o mundo pelos olhos da etérea protagonista, vivida por Shu Qi, uma assassina treinada para se misturar às sombras e se mover como o vento, metáfora visual executada com elegância, uma mulher consciente de que está se esvaindo existencialmente, consciente de que nunca terá o conforto de um lar, punida severamente por ter demonstrado piedade, punida por ser humana.
A câmera pacientemente esculpe o tempo, como nas obras de Tarkóvski, conduzindo o espectador a apreciar cada detalhe do enquadramento. Jogado sem muito cuidado em poucas salas de cinema brasileiras, entre tantas bobagens facilmente esquecíveis, esse filme será melhor servido pelo tempo, senhor da razão, uma obra-prima rara em nosso circuito.
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Passou em qual cine,ou esta em exibição em que cinema?Gostaria de assistir.