Numa demonstração fascinante de autoparódia com seus sucessos cinematográficos anteriores, Elvis entoa a canção-título deitado confortavelmente na areia da praia, enquanto coça displicentemente as costas. A ingenuidade de seu personagem estava longe da atitude rebelde que os fãs de rock queriam ver em seu ídolo na tela grande, o que prejudicou as bilheterias.
Ao invés de redirecionar este elemento, a culpa recaiu na trilha-sonora, com apenas cinco músicas. A preocupação imediatista nublou a percepção de todos, já que “Em Cada Sonho Um Amor”, em retrospecto, é um dos cinco melhores filmes protagonizados por Elvis.
Em Cada Sonho Um Amor (Follow That Dream – 1962)
Toby só quer saber de tocar violão, mas se vê completamente envolvido com burocratas do governo, chefões do crime e até com duas gatinhas apaixonadas, após seu pai resolver se aproveitar de uma lei de ocupação de terras e instalar a família em uma praia pública.
O produtor Walter Mirisch havia pensado em refilmar o clássico protagonizado por Humphrey Bogart: “Kid Galahad”, que constava na lista de aquisições da United Artists, para ser o próximo veículo para Elvis, mas enquanto trabalhava no roteiro ele ficou encantado com o livro “Pioneer Go Home!”, de Richard Powell, que considerou o projeto perfeito para o rapaz naquele momento, deixando então a refilmagem para ser explorada no ano seguinte.
O experiente Gordon Douglas que já havia dirigido Stan Laurel e Oliver Hardy, o cultuado sci-fi: “Them!”, e que depois trabalharia em produções protagonizadas por Frank Sinatra, fez apenas esse filme com Elvis, mas conseguiu extrair do jovem uma de suas melhores atuações, nesta que considero sua melhor comédia.
O título original, o mesmo do livro, foi trocado para “Follow That Dream”, refletindo a aposta do produtor no sucesso da canção composta por Fred Wise e Ben Weisman, uma pérola subestimada que Bruce Springsteen afirma ser uma de suas favoritas do repertório de Elvis. Na trilha sonora, com exceção das tolas “Sound Advice” e “I’m Not The Marrying Kind”, ainda é possível perceber a dedicação do cantor na suingada “What a Wonderful Life”, de Sid Wayne e Jerry Livingston, e na bela “Angel”, de Sid Tepper e Roy C. Bennett, que fecha a obra.
Ainda acostumado a defender canções de qualidade respeitável em seus projetos cinematográficos, ele se revoltou com “Sound Advice”, apresentada em uma cena simpática onde Arthur O’Connell imita os movimentos do cantor, exigindo que ela fosse descartada em qualquer disco relacionado ao filme. O’Connell, que havia sido indicado recentemente ao Oscar por “Anatomia de Um Crime”, o pai simplório e corajoso, vale ressaltar, entrega uma das melhores atuações dentre todos os coadjuvantes de produções com Elvis. A química deu tão certo que ele voltaria a viver a figura paterna em “Com Caipira Não se Brinca”.
Anne Helm, que vive a irmã de criação que é apaixonada pelo caipira Toby, garante o tom de doçura que a personagem precisa, sem deixar que a ingenuidade dela soe forçada. O romance, como a atriz afirma em várias entrevistas, não ocorreu apenas no roteiro, os dois ficaram juntos por um bom tempo, enquanto a imprensa especulava sobre o
futuro casamento dele com Priscilla Ann Beaulieu. Com Joanna Moore, que vive uma assistente social sem escrúpulos, a relação era de ciúme, já que a colega parecia obcecada em conquistar o ator, um atrito que é transmitido em cenas como a do empurrão no rio, que era pra ser dado por uma das crianças, mas que Anne pediu ao diretor para fazer. O próprio Elvis, tendo a rara chance de equilibrar drama e comédia, defendendo um tipo ingênuo e correto, entrega a melhor atuação de sua segunda fase em Hollywood.
Analise o timing cômico das cenas em que, representando a lei do local, enfrenta os mafiosos da jogatina, ou quando ele recorre à tabuada como mecanismo de defesa para evitar casamento, comparando essas sequências com a ternura que envolve seu discurso perante o juiz pela guarda dos irmãos de criação.
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Muito obrigada Octavio !!!!!!!!