Críticas

Sétima Arte em Cenas – “Um Dia, Um Gato”, de Vojtech Jasný

Um Dia, Um Gato (Az Prijde Kocour – 1963)

Esta joia tcheca pouco comentada, uma fábula infantil lírica com uma forte crítica comportamental, recebeu o prêmio especial do júri em Cannes. A trama é simples e brilhante. Um vilarejo, microcosmo para a nossa sociedade, recebe a visita de um mágico, uma bela jovem e seu gato de óculos escuros.

Com poderes especiais, o felino vê os seres humanos com cores diferentes, de acordo com o caráter e os sentimentos deles, por exemplo, um casal de namorados em intensa cor vermelha, os hipócritas e mentirosos em roxo, resultando em um show de cores vibrantes que garantem ao filme uma estética verdadeiramente única, um tom antirrealista em que os personagens dançam sem música, um agradável sonho lúcido.

É interessante constatar que os ilusionistas profissionais da trupe circense atuam exatamente retirando o véu de ilusão/falsidade que move os personagens, o que obviamente não os torna uma unanimidade em popularidade no local, já que o mero vislumbre do gato passa a incitar o pavor daqueles que, até por profissão, precisam defender mentiras.

A cena que justifica a inclusão do filme neste especial ocorre quando Diana, vivida pela encantadora Emília Vášáryová, retira os óculos do gato em um espetáculo noturno de magia, apresentando ao público, pela primeira vez, esta peculiaridade do animal. Mesmo sem saber o significado das cores diferentes, grande parte da população se desespera e corre para fugir do alcance dos pequeninos olhos.

As crianças, puras, intocadas pela hipocrisia adulta, não se incomodam com o fenômeno, assim como os avermelhados apaixonados, absortos em suas esperanças românticas. Enquanto os adultos caçam o gato, símbolo da queda de suas máscaras sociais, as crianças protegem o bichinho de todas as formas.

Uma das alegorias mais bonitas da história do cinema, que nunca resvala no moralismo panfletário, estimulando uma profunda reflexão humanista.

* Você encontra o filme garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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