Críticas

“Medo e Desejo”, de Stanley Kubrick

Medo e Desejo (Fear and Desire – 1953)

Quatro soldados sobrevivem à queda de seu avião e se encontram em uma floresta a seis milhas atrás das linhas inimigas. O grupo, liderado pelo tenente Corby, tem um plano – fazer seu caminho para um rio próximo, construir uma jangada e, em seguida, à noite, flutuar de volta para território amigo. Seus planos para voltar com segurança são desviados por uma jovem mulher que se depara com eles.

A filmografia de Stanley Kubrick, com exceção de “Lolita”, o único que pode ser considerado irregular, é impressionantemente formada por obras-primas em variados gêneros.

Este primeiro trabalho, financiado pelo próprio diretor, acumulando funções como forma de driblar as limitações orçamentárias, já demonstra incrível domínio de câmera, além de uma preocupação pouco usual com o subtexto filosófico que move a narrativa, explorando com lirismo os sentimentos dos soldados que lutam para que a loucura não os domine, mérito do roteiro de Howard Sackler.

Há também influência de Eisenstein na forma como ele trabalha as elipses visuais em uma sequência de ataque. Também é válido citar a curiosa reutilização de atores em lados opostos na batalha, algo que pode não ser percebido numa primeira sessão, mas agrega camadas de interpretação em revisão.

Esta abordagem sobre as consequências desumanizantes de uma guerra voltaria a ser trabalhada pelo diretor, com maior eficiência, em “Full Metal Jacket”, mas é preciso salientar a coragem desse comentário social defendido com segurança por um cineasta de pouco mais de vinte anos de idade, no período em que o mundo ainda estava se recuperando da Segunda Guerra Mundial.

A atmosfera que remete aos episódios de “Além da Imaginação”, esforço consciente de retratar o conflito como algo surreal, transforma a floresta em algo quase sobrenatural, um purgatório onde os personagens andam em círculos, sem esperança de redenção.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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