Críticas

“Trinity é o Meu Nome”, de Enzo Barboni

Trinity é o Meu Nome (Lo Chiamavano Trinità… – 1970)

Carlo Pedersoli, o internacionalmente conhecido Bud Spencer, famoso pelos filmes que fez com Terence Hill, faleceu em 27 de junho de 2016, em Roma, aos 86 anos.

Eles chamaram a atenção do público pelo contraste físico na trilogia dirigida por Giuseppe Colizzi, composta por “Deus Perdoa, Eu Não!”, “Os Quatro da Ave Maria” e “A Colina dos Homens Maus”. O seu nome no Brasil é sinônimo de “Sessão da Tarde”, já que marcou presença constante na nossa programação televisiva em filmes como: “A Dupla Explosiva”, “Eu, Você, Ele e os Outros”, que foi rodado no Rio de Janeiro, “Dois Loucos Com Sorte”, “Banana Joe”, “Aladdin”, “Nós Jogamos com os Hipopótamos” e “Dois Tiras Fora de Ordem”, além de “Trinity é o Meu Nome”, que considero o melhor trabalho da dupla.

Grande parte de sua filmografia se mantém num lugar cativo em minha memória afetiva, mas apenas este projeto dirigido por Enzo Barboni sobreviveu efetivamente ao teste do tempo, sem o fator da nostalgia que embeleza tudo o que toca. O sucesso da comédia salvou a indústria italiana de cinema, mas também fez com que o gênero spaghetti western nunca mais fosse levado a sério.

É interessante ressaltar que originalmente o projeto seria um convencional bang-bang, mas o roteiro não agradava ninguém, então o diretor retirou um terceiro protagonista, seguindo um conselho de Spencer, e focou sua atenção na dupla, com liberdade para avacalhar o que parecia ser uma tragédia financeira anunciada.

Spencer também foi o responsável pela ideia de enfatizar comicamente a diferença física dos dois protagonistas, transformando-os em irmãos. A trama traz referências de “Os Brutos Também Amam”, “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, “Caravana de Bravos” e até mesmo de “Os Sete Samurais”.

Ao som da excelente canção-tema, composta por Franco Micalizzi, somos apresentados ao esfarrapado Trinity (Hill), confortavelmente arrastado por seu cavalo em uma liteira improvisada, pés descalços, aba do chapéu protegendo da luz do sol, o extremo oposto da figura heroica que os faroestes eternizaram no inconsciente coletivo do público.

O prato de feijão que ele devora como um animal esfomeado na taberna, viraria um símbolo do personagem e o título do subgênero: fagioli (feijão) western. O sorriso debochado ao escutar que é conhecido como o mais rápido gatilho do Velho Oeste, seguido por uma escrachada demonstração, atirando displicentemente para trás e sem olhar para o alvo, a desconstrução inteligente de uma fórmula que já estava desgastada.

O seu irmão Bambino, o novo xerife da cidade, um gigante abrutalhado e gentil vivido por Spencer, nomeado por Trinity como “mão esquerda do diabo”, lê o seu jornal tranquilamente enquanto um trio de malfeitores estereotipados o ameaça, uma composição visual que coloca literalmente em confronto o clássico e a paródia.

A história é simples, a marca registrada do filme são as longas pancadarias em grupo coreografadas pelos mais experientes dublês italianos, aquele estrondoso tapa de mão aberta que induz ao riso imediato, uma característica quase circense que o povo brasileiro identificou como similar às peripécias dos Trapalhões.

Com o falecimento de Bud Spencer, morre mais um pedaço importante da minha infância. Que o seu legado artístico siga divertindo as próximas gerações. Que nunca nos esqueçamos…

Música-tema composta por Franco Micalizzi:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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