Entrevistas

Entrevista exclusiva com Carlos Loffler, neto de OSCARITO

Em mais uma entrevista exclusiva para o “Devo Tudo ao Cinema”, converso com o colega ator Carlos Loffler, neto de Oscarito, um dos maiores nomes da história do cinema nacional.

O – A sua trajetória é interessante, você iniciou no rock e foi o amor por seu avô que o fez se interessar pelas artes cênicas. Como você analisava essa herança familiar antes e como foi esse turning point? Você se recorda exatamente do momento em que Oscarito te inspirou a redefinir suas metas de vida?

C – Eu comecei nos anos 70, ainda na adolescência cantando Rock’n’Roll em bandas de escolas. Por me achar meio tímido, eu achei melhor fazer teatro (Tablado) em 1980 e confesso que foi nesse momento que eu comecei a pesquisar a vida do meu avô e a sua importância no humor no Brasil, até então ele era um avô como outro qualquer, tínhamos poucos momentos juntos, festas natalinas e alguma viagens de férias. Ele faleceu em 1970 e eu tinha 10 anos, sendo assim, só fui descobrir o meu avô artista entre o Rock e o Teatro em 1980.

O – Na minissérie “Dercy de Verdade”, de 2012, você interpretou seu avô. Imagino que deve ter sido uma emoção única. Conte um pouco dessa experiência. Você teve algum receio de encarar a responsabilidade deste projeto?

C – Interpretar o meu avô na minissérie “Dercy de Verdade” foi realmente muito emocionante e, de certa maneira, uma grande responsabilidade. Foi hilário! Um presente dos deuses! Foi muito divertido, tive a sorte de contracenar com atores que já haviam trabalhado comigo em outros projetos. E ser dirigido pelo Jorge Fernando foi um prazer total. Não tive receio de encarar, pois já tinha homenageado o meu avô em outros programas, como o “Retrato Falado” e “Fantástico”, entre outros.

O – Hoje, com a maturidade pessoal e profissional, como você analisa a importância de Oscarito no cinema nacional? Por melhor que biógrafos possam captar a influência dele na indústria, ninguém melhor que você para mensurar este legado.

C – Oscarito foi o maior cômico que o Brasil já teve, com seu imenso talento, sua disciplina, ele era perfeccionista, teve sucesso principalmente nos filmes da Atlântida, onde o grande público lotava os cinemas. Ele levou o seu humor circense e popular para as telas, irritando os críticos. Ele era amado pelo povo, era um Chaplin brasileiro.

O – Quando entrevistei Alice Gonzaga, guardiã da memória da Cinédia, abordei o triste desinteresse que grande parte da juventude nutre com relação ao passado cultural, atitude que se reflete também naqueles que poderiam efetivamente manter essa história. Os nossos filmes antigos, com poucas exceções, se perdem, não são restaurados. Quando são lançados em DVD, logo ficam fora de catálogo, dificultando o acesso daqueles que tem interesse. E os filmes iniciais com o Oscarito são das décadas de 30, 40, não são cinema mudo dos anos 20.

Se esta nação fosse séria, os cinéfilos teriam todo este acervo em alta qualidade para ser estudado e apreciado pelas próximas gerações. Eu creio que todo dinheiro direcionado à área está sendo desviado, enquanto que a indústria brasileira atende apenas os “amigos do rei”, reduzindo a arte à panfleto político. O brasileiro quer ganhar prêmio no exterior, mas não valoriza seu passado. Como você vê esta questão? E você tem esperança de que este panorama seja modificado?

C – Você tem razão, sinto que aqui não existe esse cuidado com os acervos desses artistas geniais. Isso é muito triste. As famílias tem que cuidar dos seus próprios acervos, no caso do Oscarito, nós doamos para o MIS (Museu da Imagem e do Som de São Paulo) as imagens, fotos e documentos. E esperamos que a Cinemateca possa ter mais verbas para preservar os filmes.

O – Seguindo no mesmo raciocínio, como você enxerga a valorização atual das chanchadas e comédias populares da época pela crítica, quando, durante muito tempo, elas eram injustamente tratadas como um produto menor? A qualidade de produção era impecável, os figurinos e os cenários, grandiosos. Os musicais da MGM, da década de 50, muitos deles eram bregas, alguns até inferiores aos musicais que nós fazíamos, porém, ninguém reclamava. Esta reação era uma variação do complexo de vira-latas?

C – Acho que melhorou bastante, hoje em dia comediantes ganham prêmios (rs). Antes eu acredito que existia um certo preconceito com quem fazia humor, ainda mais se tratando das famosas Chanchadas da Atlântida. Eram muito criticados, não achavam cinema sério. Sim, porque fazer humor é realmente muito difícil, mas quanto mais criticas negativas, mais as salas ficavam cheias. E acredito que esses novos comediantes sabem a importância desses filmes e seus artistas.

O – A origem do seu avô era circense. Você acredita que a ingenuidade deste tipo de arte, mantida de certa forma pelos Trapalhões nas décadas de 70 e 80, poderia ser a chave para que a indústria atual conseguisse entregar boas comédias populares, ao invés de popularescas, como parece ser o padrão do gênero hoje? Em outras palavras, você acredita que haveria espaço para Oscarito no cinema de comédia nacional moderno? Se não, o que se perdeu?

C – Acho que sim, teria espaço. Apesar do humor de hoje ser menos ingênuo, sempre haverá uma turma fazendo um humor mais circense. Perdeu por um lado, mas ganhou por outro, hoje os cinemas ficam lotados pra ver esses novos filmes de comédia. Isso é ótimo!

O – Já que citei o trabalho dos Trapalhões, impossível não comentar sobre sua participação em “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude”, vivendo um jovem Didi. Como foi essa experiência? Renato Aragão é um grande admirador de Oscarito, vocês conversavam sobre isso?

C – Um presente fazer o Didi no filme “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude”, uma experiência incrível, participar e conviver com eles, muito divertido, viajamos juntos e tive a oportunidade de levar um lero com eles, principalmente o Renato Aragão, que me contou muito emocionado que o meu avô foi uma grande influência para ele começar nessa carreira. Incrível!

O – Como era o Oscarito fora do personagem? Você pode nos passar uma imagem íntima de como era o homem em sua vida normal. Tenho certeza que ele era mais interessante que o próprio personagem que criou.

C – O meu avô era um cara muito sério, tímido até demais, não sabia contar uma piada! Mas em cena ele se transformava totalmente, mostrando que para ser comediante não precisa ter graça o tempo todo. Ele era o oposto, em casa era o Sr. Oscar, nas gravações ele era o Oscarito.

O – Gosto de “Aviso aos Navegantes”, “Nem Sansão Nem Dalila” e “Barnabé, Tu és Meu”, mas considero “De Vento em Popa” (1957) o melhor filme da carreira dele, um dos melhores filmes da história do cinema nacional. Quais são os seus filmes favoritos dele? 

C – Gosto muito do filme “O Homem do Sputnik”, de Carlos Manga, e todas as paródias. Gostava mais dos filmes do meio do ano, do que aqueles muito carnavalescos, que tinham roteiros mais fracos, divulgando mais as musicas de carnaval da Radio Nacional. Mas meu avô era bom mesmo nas grandes Revistas e no Teatro de Comédia. Ele era maravilhoso, pena que eu não pude ver ele em cena.

O – Carlos, por gentileza, deixe uma mensagem final para os meus leitores, fãs de cinema que valorizam sobremaneira o legado de Oscarito no cinema nacional.

C – Agradeço a todos vocês que são apaixonados por cinema como eu. E agradeço especialmente a todos que fazem cinema nesse país. A luta continua. Viva Oscarito!

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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  • Meu caro Octavio. Muito oportuna a entrevista de Carlos que além de artista carrega consigo o peso e a glória de ser neto do grande Oscarito. Corretíssima a preocupação de ambos, entrevistador e entrevistado, sobre o perigo do pó do tempo encobrir um passado tão importante do Cinema Brasileiro. Juntos todos, vamos torcer para que sejam restaurados os filmes. Salvar nossa Memória é preciso! ABÇs

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