Críticas

Sétima Arte em Cenas – “Os Bandidos do Tempo”, de Terry Gilliam

Os Bandidos do Tempo (Time Bandits – 1981)

Na companhia de anões caçadores de tesouros, um garoto parte numa aventura diferente: dotados de um mapa que pertence ao Ser Supremo, eles viajam pelo tempo participando de eventos históricos e encontrando personagens famosos.

É impressionante como esta produção costuma ser analisada por críticos como parte da filmografia do grupo Monty Python. Apesar de ser dirigida por Terry Gilliam e contar no elenco com rápidas participações de John Cleese e Michael Palin, a deliciosa aventura no tempo tem suas raízes nas recordações lúdicas da infância do cineasta.

Detalhes como o lar do vilão ser formado por peças de Lego gigantes, ou a decisão ousada de literalmente explodir as figuras parentais do pequeno Kevin no desfecho, falam diretamente ao subconsciente da criança que busca compreender a complexidade do mundo em que está inserida.

Há muito senso de humor, mas sem cinismo. Com baixo orçamento e ajuda na distribuição do amigo beatle George Harrison, o filme surpreendeu os críticos com sua inventividade visual e fez um sucesso tremendo de público, garantindo ao diretor a possibilidade de uma carreira fora do grupo britânico. Perto de filmes com temática similar, como “A História Sem Fim”, “Labirinto” e “A Lenda”, “Os Bandidos do Tempo” cresce a cada revisão por sua coragem de não subestimar o seu público-alvo, inserindo camadas sombrias que abrem possibilidades de discussões posteriores sobre seus possíveis significados.

A breve cena que justifica a inclusão do projeto neste especial, emoldurada por um dos diálogos mais interessantes já escritos no gênero, ocorre no lar da personificação do mal, vivido brilhantemente por David Warner, quando ele é confrontado por um de seus minions sobre sua incapacidade de escapar de seus domínios e, por conseguinte, sua simples existência ser a comprovação de que Deus é superior, logo após discursar com segurança sobre ser todo poderoso, aquele que “ninguém criou” e que “ninguém pode desfazer”.

Após destruir o pobre coitado, reconstruir e destruir novamente, uma das tiradas mais hilárias do filme, ele reflete: “Boa pergunta. Por que eu, como ser supremo do mal, permito que Deus me mantenha preso na fortaleza da escuridão?” A conclusão dele, “para que o ser supremo tenha uma falsa sensação de segurança”, não convence nem mesmo seu fiel adulador.

Ao trabalhar de forma crítica e questionadora o sistema de crenças em um produto direcionado para crianças, o roteiro provoca inconscientemente um desconforto benéfico, uma espécie de “Carl Sagan” para baixinhos. Em um universo criativo de tantas cenas visualmente impressionantes, como o gigante que carrega a embarcação marítima no topo da cabeça, considero este breve momento o mais genial da obra.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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