A festa acabou e os visitantes estrangeiros estão se
preparando pro retorno às suas nações, o impressionante reforço policial que
garantiu a segurança nos locais tocados pelo evento vai se despedir também da
noite para o dia, toda a maquiagem cara já começou a borrar com a chuva, os
fogos de artifício no estádio iluminaram ruas da região que estavam sem luz
devido aos ventos fortes. As vaias constantes do público aos adversários nas
competições são o símbolo do baixo nível educacional e da hipocrisia nacional,
vendemos bem a imagem da cordialidade conveniente, mais folclórica do que real.
“Sou brasileiro com muito orgulho, com muito
amor”. Patriotas barulhentos que molham a bandeira de lágrimas na hora de
cantar o hino, mas que preferem passar as férias no exterior. E não os culpo,
todo indivíduo precisa buscar sempre as melhores condições de vida, assim como
muitos dos nossos atletas, que, no desejo de alcançar um nível competitivo,
precisaram buscar no exterior o aprimoramento de suas habilidades. O Brasil
está longe de ser uma potência olímpica, mas é essencial que cada bravo e
desamparado atleta brasileiro seja muito respeitado, todos batalharam além de
suas limitações, todos são vencedores, medalhistas ou não, apesar de estarem
inseridos em um sistema que nunca os valorizou.
Atletas, professores, policiais e médicos, a lista de
profissionais vergonhosamente desvalorizados por aqui é longa. Sem salários,
sem condições dignas de trabalhar, qual será o impacto do “legado
olímpico” pra esses elementos fundamentais da sociedade? Sabemos bem o que
acontece com arenas esportivas depois que os holofotes da imprensa mundial são
apagados, elefantes brancos mantidos a um custo absurdo, em uma nação que não
oferece mínima qualidade em serviços básicos para aqueles que pagam altos
impostos. Acho curioso que a festa bonita e o desempenho dos atletas tenham
surtido o acachapante efeito do orgulho nacional em muitos brasileiros, algo
que provavelmente será esquecido na dura ressaca coletiva, o choque de
realidade que já se faz visível no horizonte.
Foi agradável ser respeitado como cidadão durante esses
dezesseis dias? Sem dúvida! Caminhei pelas ruas do meu bairro sem medo de ser
assaltado, policiamento até de madrugada, tipo aquela amostra grátis de um
perfume caro que você nunca vai conseguir comprar. É muito bom até a última
gota. Agora bate a tristeza profunda, o justo sentimento de revolta, o
desespero ao constatar que não há sequer uma réstia de luz no fim do túnel, não
há opções válidas na política, apenas a certeza de que o prejuízo olímpico vai
pesar bastante nos bolsos de todos os brasileiros. Há esperança, tenho absoluta
certeza, mas ela não está nas mãos dos bobos alegres. Esses se satisfazem com a
usual política do “pão e circo”, claro, enquanto tiverem oportunidade
de comprar as bugigangas mais baratas lá fora, ou enquanto enxergam a nação
através das janelas de seus condomínios de luxo. A esperança reside naqueles
que encaram o precipício e se recusam a sorrir para o abismo.
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