Rompendo Correntes (Bustin’ Loose – 1981)
Joe é um motorista atrapalhado convocado a dirigir para crianças de um centro especializado em menores problemáticos, como forma de amenizar seu problema com a justiça. Ao receber a missão, o motorista não gosta nem do ônibus velho, nem das crianças. Com o tempo, no entanto, aprenderá a apreciar a ambos.
Richard Pryor foi um dos melhores comediantes norte-americanos, muito pouco lembrado pelos brasileiros, alguém que conseguiu moldar seu estilo indomável no palco para a comportada câmera de cinema.
A parceria com Gene Wilder rendeu pérolas como “O Expresso de Chicago”, “Loucos de Dar Nó” e “Cegos, Surdos e Loucos”, mas o filme que resgato nesse texto me conduz diretamente à minha adolescência, ele era presença frequente na sessão vespertina do “Cinema em Casa”, do SBT.
Em uma entrevista para Bill Boggs, disponível no Youtube, ele dá uma declaração corajosa sobre a questão do racismo, o que explica a ação de pessoas como George Soros, utilizando movimentos negros como massa de manobra: “Faz parte do capitalismo promover o racismo, porque isso separa as pessoas. Quando as pessoas não se odeiam, então elas começam a interagir, o que as faz descobrir o real problema: pessoas gananciosas.”
Uma das cenas mais marcantes do filme aborda o tema, o momento em que o protagonista acaba se infiltrando sem perceber em uma caminhada noturna de um grupo da KKK, uma sequência tão visualmente impactante que foi utilizada no pôster.
O ator enfrentava a depressão com sua arte nos palcos, mas durante as filmagens ele tentou dar fim à vida, ateando fogo em seu corpo e correndo pela rua. Socorrido, retornou meses depois para terminar a obra.
Gosto das canções compostas pela Roberta Flack, “Children’s Song” e “Just When I Needed You”, ajudam a dar o tom esperançoso e humanista do projeto. Vale ressaltar a coragem de certas escolhas do roteiro, como quando o personagem de Pryor estapeia o menino rebelde, ensinando que ele não deve se vitimizar, um leitmotiv que se repete na sequência emocionante em que ele afirma de forma contundente para as crianças que elas não são perdedoras.
O sentimento de desprezo pela função vai gradualmente sendo substituído pela certeza de que aquela é uma missão de redenção, o encorajamento na cena é direcionado na realidade para a sua própria criança interior, o que ganha um contorno ainda mais emotivo ao percebermos que a história foi escrita pelo ator, que também exerce pela primeira vez o cargo de produtor pleno.
Oz Scott pode ser o diretor, mas é o coração de Pryor que escutamos batendo em cada minuto da sessão.
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