Críticas

“Uma Noiva em Cada Porto”, clássico mudo de Howard Hawks

Uma Noiva em Cada Porto (A Girl in Every Port – 1928)

O roteirista/diretor Howard Hawks, com esta comédia tematicamente simplista, mostrou que tinha talento para equilibrar classe na execução com cativante leveza no tom, característica que o faria ser reconhecido no futuro como o maior símbolo de versatilidade da indústria norte-americana.

Analisando fora do contexto, não é um grande filme, nem pode ser considerado especialmente relevante dentre os projetos da era do cinema mudo, mas é o melhor trabalho da primeira fase de Hawks, um roteiro que insinuava caminhos narrativos que seriam explorados durante toda a sua carreira.

Na trama estruturada de forma episódica, dois marinheiros, vividos por Victor McLaglen e Robert Armstrong, lutam pela preferência das garotas que encontram em todos os portos. Os nomes dados aos dois enfatizam o humor popularesco: Espeto e Salame. Eles marcam presença até no Rio de Janeiro, onde, claro, o sobrenome da animada dama vivida por Maria Casajuana e o seu endereço enfatizam nossa língua pátria, pelo menos aos olhos do mundo, o espanhol.

Eles chegam a interromper uma típica briga de bar, para investirem juntos contra a força policial do local, uma camaradagem que evidencia a beleza da competitividade amistosa. Na conclusão, a amizade acaba falando mais alto que a disputa deles pelas garotas, iniciando o que seria um leitmotiv clássico em sua filmografia, a história de amizade entre dois homens.

O elemento que realmente faz do filme algo a ser lembrado leva o nome de Louise Brooks. A jovem, que havia largado a dança para se focar na atuação, era casada com um amigo do diretor. O seu jeito irreverente, seguro e espevitado acabou caindo como luva em sua Marie, artista circense, sempre mostrada vestindo um maiô colado na alma, defendido por um dos rostos mais bonitos de sua época. A cena em que ela provoca o amigo do atual namorado na frente dele é muito provocante.

Ela aparece numa sequência que dura cerca de vinte minutos, tempo suficiente para atrair a atenção do diretor austríaco G.W. Pabst, que imediatamente tirou Marlene Dietrich da jogada e ofereceu para a garota do corte de cabelo exótico, rebeldia irresistível, o papel principal em “A Caixa de Pandora”, obra-prima muda que a tornou mundialmente conhecida e desejada.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Crítica de “O Brutalista”, de Brady Corbet

O Brutalista (The Brutalist - 2024) Arquiteto (Adrien Brody) visionário foge da Europa pós-Segunda Guerra…

19 horas ago

Dica do DTC – “Nazareno Cruz e o Lobo”, de Leonardo Favio

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

3 dias ago

Os MELHORES episódios da fascinante série “BABYLON 5”

Babylon 5 (1993-1998) Em meados do século 23, a estação espacial Babylon 5 da Aliança…

4 dias ago

Os 7 MELHORES filmes na carreira do diretor britânico JOHN SCHLESINGER

O conjunto de obra do saudoso diretor britânico John Schlesinger é impressionante, mas selecionei 7…

5 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

Crítica de “A Garota da Agulha”, de Magnus von Horn, na MUBI

A Garota da Agulha (Pigen Med Nålen - 2024) Uma jovem (Vic Carmen Sonne) grávida…

1 semana ago