Águia Solitária (The Spirit of St. Louis – 1957)
Charles Lindbergh é uma figura controversa nas páginas da história mundial, ele se encantou com a revitalização nacional alemã sob o regime ditatorial e chegou a ser condecorado por Göring, líder do partido, mas isto não arranha sua importância como pioneiro na aviação, tendo sido o primeiro a realizar um solitário voo transatlântico sem escalas em 1927, lutando contra o sono e utilizando como guia: bússola, estrelas quando as nuvens não atrapalhavam, e um mapa desdobrável.
O filme dirigido pelo mestre Billy Wilder consegue equilibrar a reverência respeitosa com toques de humor, deixando um pouco de lado a ironia autoral típica em seus trabalhos para potencializar uma visão didática sobre o protagonista, enriquecido pela atuação terna de um James Stewart perceptivelmente honrado de poder viver esse papel.
Como ele passa praticamente o tempo todo dentro da pequena cabine, com a constante narração representando seu inconsciente, o maior desafio era expressar em seu rosto todos os conflitos internos, o medo de não sofrer o terrível destino dos que tentaram antes dele, a imprevisibilidade que desafia sua experiência.
O roteiro é estruturado em flashbacks que evocam a dedicação do jovem, não há timidez na forma como ele é retratado como um herói da classe trabalhadora, até mesmo em situações simples, como quando interage pacientemente com uma fã momentos antes de partir em sua viagem.
O Lindbergh real vinha de uma família privilegiada, mas é compreensível que o roteiro tenha adotado essa visão dele como o bom moço humilde de classe média, alguém com quem todos os norte-americanos poderiam se identificar.
A maior dimensão do Cinemascope, formato que começou a usar no anterior “O Pecado Mora ao Lado”, é inteligentemente explorada nos enquadramentos, com a edição demonstrando maior senso de dinamismo do que era usual em seus filmes, fica evidente que Wilder estava disposto a coerentemente seguir o apreço do homenageado pelo desafio, algo verdadeiramente louvável para um cineasta que já não precisava provar nada a ninguém.
“Águia Solitária” é uma pérola injustamente pouco lembrada em sua filmografia.
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