A Argentina é um dos primeiros países no mundo, após a
França, a incluir cinema como matéria curricular em escolas primárias. Uma
nação que valoriza a cultura e se preocupa realmente com a educação de suas
crianças. Quando li a notícia, pensei que era brincadeira do
“Sensacionalista”, vivemos desesperançados em nossa lastimável situação
social/política, não fomos condicionados ao respeito governamental por valores
éticos. Essa iniciativa não apenas irá ajudar a formar um público, elemento
fundamental em longo prazo, como também irá fortalecer a própria indústria de
cinema argentina.
Eu devo tudo ao cinema, todo o aprendizado que
verdadeiramente forjou o adulto que sou hoje, a resiliência que me faz ainda
enxergar luz no fim desse lamacento túnel nacional, veio do meu amor pelo
garimpo intelectual cinematográfico desde criança. Muitos discutem reformas educacionais que pedem mais tempo dos alunos na escola, o que não considero eficiente, um adolescente pode aprender muito mais fora das carteiras escolares. Com o cinema eu me interessei em conhecer o universo da filosofia, matéria que nunca foi abordada pelos meus professores de primário e ginásio. A melhor forma de aprender uma língua estrangeira é retirando a obrigatoriedade curricular da equação, o real interesse deve ser estimulado, eu sou fluente em inglês, dei aulas particulares por alguns anos de minha juventude, uma matéria que absorvi desde a infância através de filmes, música e videogames, aprendi sem perceber que estava aprendendo. Já escrevi vários textos
abordando a importância do cinema como recurso educacional,
escrevi um livro sobre o tema, sonho com essa iniciativa se tornando uma
realidade possível no Brasil. É difícil, tarefa praticamente impossível. O
cinema ainda é utilizado aqui como joguete político, como capricho de ególatras
que produzem obras umbilicais, ou como parque de diversões caro para a
satisfação imediatista de artistas de diversas áreas, de youtubers teens até
dançarinas de axé, em suma, filmes com prazo de validade curto.
Enquanto nós somos Curupiras correndo em direção à Idade
Média, a Argentina dá uma aula valiosa para o mundo.
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