Críticas

Tesouros da Sétima Arte – “Uma Dupla Desajustada”, de Herbert Ross

Uma Dupla Desajustada (The Sunshine Boys – 1975)

Lewis (George Burns) e Clark (Walter Matthau) eram comediantes famosos durante a era do teatro de vaudeville. Fora do palco, no entanto, eles não se suportavam. Tanto que, passada a fase de sucesso, ficaram sem falar durante mais de 20 anos. Até que Ben (Richard Benjamin), sobrinho de Clark, tornou-se produtor de teatro e decidiu produzir uma montagem especial estrelada pela famosa dupla. O problema será convencer ambos a deixar as diferenças de lado para subir ao palco e protagonizar uma histórica volta ao show.

Adaptado da peça de Neil Simon, que havia estreado com muito sucesso na Broadway três anos antes, o roteiro, escrito pelo próprio autor, mantém a estrutura teatral sem arroubos de criatividade, com foco no texto defendido por Walter Matthau e George Burns, que estava afastado das telas por mais de três décadas. A ausência de trilha sonora reforça a atenção do público nos diálogos sempre espirituosos. Woody Allen, grande fã da peça, interpretou Lewis numa adaptação televisiva na década de 90.

Um dos aspectos mais interessantes da trama é que ela nos faz querer ver os dois astros do vaudeville em ação, o que ocorre no terceiro ato, apenas para constatar que eles são muito mais interessantes fora dos palcos, as suas personalidades turronas garantem risadas mais gostosas do que as brincadeiras roteirizadas de seus espetáculos. O silencioso ensaio para a cena do consultório médico é hilário, com os dois tentando ajustar a posição da mobília, um timing cômico impecável.

Burns recebeu o prêmio de Ator Coadjuvante da Academia e foi redescoberto por uma nova geração, trabalhando em pérolas divertidas como “Alguém Lá em Cima Gosta de Mim” e sua sequência “A Menina Que Viu Deus”.

A realidade do vaudeville é uma incógnita para grande parte dos brasileiros, duplas como Smith e Dale, ou Gallagher e Shean, fontes de onde Simon bebeu para criar sua peça, tiveram grande importância na época áurea da comédia, assim como o próprio George Burns, que se apresentava com sua esposa Gracie Allen, Abbott e Costello, “Fatty” Arbuckle, Stan Laurel, Oliver Hardy e os Irmãos Marx, artistas que ficaram mais famosos por terem conquistado também as telas do cinema.

Este tesouro resgatado pela distribuidora Classicline pode servir como uma excelente desculpa para que os cinéfilos busquem conhecer mais sobre este período fascinante.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Crítica de “Gladiador 2”, de Ridley Scott

Gladiador 2 (Gladiator 2 - 2024) Lúcio (Paul Mescal) deve entrar no Coliseu após os…

3 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

4 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

4 dias ago

Dica do DTC – “Agnaldo, Perigo à Vista”, com AGNALDO RAYOL

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

1 semana ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

Dica do DTC – “Pedro Páramo” (1967), de Carlos Velo

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

2 semanas ago