1 – A Fita Branca (Das Weiße Band – Eine Deutsche Kindergeschichte), de Michael Haneke
Haneke vai fundo em sua tese sobre a raiz do mal estar no próprio ser humano, sem distinção alguma, mostrando que a única coisa que muda é o gatilho, a motivação, mas a fragilidade do caráter acolhe graciosamente a corrupção dos valores, o que mantém o homem íntegro é sua capacidade de administrar seus impulsos, canalizar essa força nas situações certas. A fita branca da pureza esconde a hipocrisia mais suja, a torpe sociedade que parece se alimentar de monstros, o ovo da serpente…
A grande questão do filme não é o truque, a surpresa do final, mas a forma elegante como Scorsese elabora cada ponto do enigma, a ilha como metáfora para a mente destroçada do protagonista, com alas da memória que, por defesa instintiva, ele é incapaz de acessar, uma fantasia noir como projeção de uma realidade apavorante. E o roteiro trabalha esse tema com a mesma inconsequência raivosa de Samuel Fuller em “Paixões Que Alucinam”. A trilha sonora grandiosa no início evidencia o elemento da teatralidade, algo que ganha ponto em revisão…
A sequência inicial mostra uma senhora dançando de maneira quase perturbadora, nada parece fazer sentido, o leitmotiv da irracionalidade de uma mãe para proteger sua cria é estabelecido sem qualquer diálogo expositivo. O filho tem problemas mentais, novamente a razão sendo subjugada pelo instinto, uma condição que potencializou nele a dependência em todos os sentidos, encontrando resposta imediata na carência da solitária mulher. O roteiro inverte expectativas, subverte a estrutura do suspense clássico com uma segurança rara…
4 – A Origem (Inception), de Christopher Nolan
O conceito, por si só, já merece crédito, mas o esforço hercúleo de Nolan para manter o refinamento da trama equilibrado com as necessidades mercadológicas de um produto mainstream, sem nesse processo subestimar o espectador, evidencia a competência do realizador. Ao se desviar de respostas fáceis, atitude claramente simbolizada na impactante cena final, o roteiro, que homenageia os grandes “filmes de assalto”, explora as infindáveis possibilidades do inconsciente humano filosófica e visualmente. A execução do conceito, apesar do esperneio dos pseudointelectuais, pode ser considerada uma enriquecedora aula para todos, especialmente os cineastas brasileiros, de como produzir entretenimento inteligente e altamente eficiente, essencialmente industrial, mas com pegada experimental…
A animação utiliza os personagens de forma mais inteligente que suas versões originais, garantindo tremendo impacto emocional, um desfecho que sinaliza a beleza de um roteiro que acompanhou a maturidade do público e recompensou a atenção dos pais. A trama se desenvolve pela ótica nostálgica da infância, mas o foco está no sentimento da solidão, do abandono, tendo o necessário resgate da inocência como fio condutor da aventura escapista dos bonecos. A Pixar consegue um feito raríssimo, uma trilogia verdadeiramente impecável…
Campanella consegue mais uma vez entregar uma pérola que, provavelmente, será copiada pelos realizadores norte-americanos. Um filme policial sem ação, de baixo orçamento, variadas camadas de interpretação, uma atuação impecável de Ricardo Darín e um desfecho surpreendente. Revelar mais seria prejudicar a experiência do espectador…
Só o fato de conseguir criar noventa minutos de tensão ininterrupta com apenas um ator dentro de um caixão, um ator mediano, vale salientar, já seria mérito suficiente para esse filme de estreia do diretor Cortés constar nas listas de melhores do ano. Mas ele ainda tem algo interessante a dizer sobre a ocupação norte-americana no Iraque…
O roteiro trabalha muito bem o xenofobismo entre árabes e corsos, sendo a prisão, com seu sistema corrupto e truculento, um microcosmo para os problemas políticos da França. Se a desnecessária subtrama sobrenatural enfraquece o resultado, o tratamento dado aos personagens compensa qualquer problema…
O diretor Radu Mihaileanu cria uma comédia farsesca que trata de um tema muito sério. Ele aborda com leveza e de forma mais popular e eficiente, algo que Fellini procurou expressar em seu “Ensaio de Orquestra”, uma ode à anarquia. O protagonista, vivido por Aleksey Guskov, que passa seus dias como faxineiro limpando o ambiente do teatro, que outrora reverberava ao apaixonante som de sua arte, vive do desejo incontido de voltar a reger sua orquestra, numa incessante busca pela harmonia perfeita, interrompida bruscamente quando foi vítima de seu próprio íntegro caráter. Por outro lado, o roteiro nos apresenta uma jovem que representa simbolicamente um futuro ideológico mais esperançoso (antitotalitarista) para o país, a violinista Anne-Marie Jacquet, vivida pela bela Mélanie Laurent…
O primeiro filme explodia na cara do espectador como espingarda, o segundo é como aquele disparo de projétil dundum que penetra no corpo e causa maior estrago. A reflexão crítica que o roteiro propõe é o elemento que faz dele um produto superior, o inimigo deixa de ser o criminoso violento, mas, sim, o sistema podre que rege a sociedade em que ele está inserido…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
Taxi (1978-1983) O cotidiano dos funcionários da Sunshine Cab Company, uma cooperativa de táxi em…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…