Críticas

“O Chaplin Que Ninguém Viu”, de David Gill e Kevin Brownlow

O Chaplin Que Ninguém Viu (Unknown Chaplin – 1983)

O dedicado garimpo dos historiadores David Gill e Kevin Brownlow fornece imagens dos bastidores, entrevistas com testemunhas oculares dos projetos, registros de convidados ilustres nas filmagens e tomadas alternativas de cenas clássicas.

Ao percebermos quantas possibilidades cômicas ele conseguia extrair de uma simples situação, constatamos a genialidade de alguém que verdadeiramente se importava com esta ferramenta, alguém que lutava para transcender todas as limitações, criando no momento e seguindo o instinto, sem roteiro, testando variações como um pianista perfeccionista e apaixonado.

O segmento inicial, “Os Anos Mais Felizes”, foca no período dele no estúdio Mutual, primeira vez em que ele alçou voos maiores em curtas com total controle criativo. A quantidade absurda de negativos utilizada, por vezes em sequências que acabavam não sendo usadas, demonstra a empolgação do jovem em marcar seu nome na indústria. Vale ressaltar também sua esperteza em elaborar truques visuais aparentemente simples, mas engenhosos, para potencializar o impacto cômico das cenas.

O segundo segmento, “O Grande Diretor”, apresenta a natureza mais conflituosa e temperamental do artista, alguém capaz de refazer um filme inteiro apenas para trocar a atriz principal. O foco nos longas “O Garoto”, “Em Busca do Ouro” e “Luzes da Cidade”, representa a maturidade profissional de Chaplin. Já o terceiro segmento, “Tesouro Escondido”, joga luz em sequências descartadas de seus filmes, incluindo testes e brincadeiras que seriam aprimoradas em suas produções futuras.

É uma valiosa colcha de retalhos em que temos a chance de ver um artista mais descontraído, o sorriso sincero de satisfação que é dado alguns segundos depois do corte de uma cena e a preocupação, mais sincera ainda, que atravessa em seu rosto na preparação inicial, em suma, a mágica desenvoltura na relação entre criador e criatura aos olhos da câmera.

O material exibido neste excelente documentário em três partes é essencial, não somente para os fãs de Carlitos, que irão entender como funcionava a mente criativa do mestre, como também para todos aqueles que possuem um mínimo interesse sobre os alicerces da história do cinema.

* O documentário está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Obras-Primas do Cinema”, em edição de luxo com um belo pôster e dois cards.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

3 dias ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

3 dias ago

Dica do DTC – “Shitô No Densetsu”, de Keisuke Kinoshita

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

1 semana ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

2 semanas ago

Crítica nostálgica da clássica série “Taxi” (1978-1983)

Taxi (1978-1983) O cotidiano dos funcionários da Sunshine Cab Company, uma cooperativa de táxi em…

2 semanas ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

2 semanas ago