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Sobre as polêmicas ocupações de alunos em escolas públicas

Eu sempre fui um ferrado, nunca tive mesada na infância /
adolescência, nunca viajei pra fora do país, nunca liguei para o status do
consumismo (com exceção de livros e filmes, as duas paixões da minha vida),
nunca tive aparelho de ar-condicionado no quarto, os gatos de estimação que tenho
são resgatados da rua, eu deixava de comer lanche no recreio da escola pra
adquirir revistas em quadrinhos na banca de jornal (que naquela época custavam
muito barato), então creio que não me encaixo em qualquer conceito
“elitista”. Aprendi inglês sozinho, por osmose, com ajuda de muitos
filmes em VHS legendados, e, já na adolescência, buscando a gramática em livros
que pegava na biblioteca pública. Na juventude eu dei aulas particulares de
inglês, munido de um cartão simplório artesanal de cartolina, demorou alguns
meses, mas o boca a boca dos alunos funcionou e cheguei a dar aulas em
comunidades carentes. O objetivo era exatamente poder ter alguma verba para
adquirir ainda mais conhecimento. Hoje, devido à minha opção profissional,
propagar cultura nessa nação, eu continuo sendo um ferrado, mas a esperança
nunca morre.

Sempre fui um rato de sebos e bibliotecas, lugares onde os
livros são gratuitos ou vendidos a preços irrisórios. Eu sempre tive um interesse
quase arqueológico em aprender sobre os assuntos que me interessavam. Em uma
época sem internet, tudo era muito mais difícil. Hoje em dia qualquer livro
pode ser baixado em segundos, de graça em PDF, mas a juventude de hoje parece
que perdeu totalmente o interesse pelo garimpo intelectual. A educação
acadêmica não representa sequer 20% do que forjou esse escritor que, em alguns
dias, completará 33 anos de idade. Nunca tive aulas de filosofia na escola,
nunca fiz faculdade de cinema, nem de psicologia, mas sou apaixonado por todos
esses temas, estudei todos eles na solidão do meu quarto, sou crítico de
cinema/cineasta, e, posso garantir, eu já li mais livros de psicologia (muitos
deles, cópias que conseguia nas faculdades fazendo amizade com os reitores) do
que muitos estudantes da área. Na época em que fiz faculdade, a maior parte da
turma estava mais interessada era na cerveja após as aulas.

Sei que estou me alongando, mas o tema é muito importante,
para evitar simplificações equivocadas, extremistas. Eu considero um teatro
absurdo e irresponsável essas ocupações de estudantes nas escolas. Eles, com
falas e palavras de ordem fragilmente memorizadas, clichês desgastados, estão
defendendo uma causa que sequer compreendem profundamente, sendo utilizados
como massa de manobra por movimentos sindicais, com interesses políticos. Abra
as portas de uma biblioteca pública maravilhosa na frente dessas escolas
ocupadas, que essa garotada vai correr como o diabo foge da cruz. O sistema
educacional brasileiro é terrível, enferrujado e muito pouco intuitivo, mas não
é com esse teatro dos horrores, onde mães e pais são proibidos de entrar e já
houve até um caso de falecimento, que a educação nacional irá melhorar por
mágica, com o Brasil se tornando uma Suíça da noite para o dia.

Como eu sempre afirmo, a LUCIDEZ é a única salvação para o
nosso povo. O indivíduo lúcido não se escraviza em visões extremistas, não vira
massa de manobra, ele encontra divergências e convergências em tópicos
defendidos pela “esquerda” e pela “direita”, ele marcha no
ritmo de seu próprio tambor ideológico, respondendo apenas aos seus princípios.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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Octavio Caruso

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