Críticas

“Tucker, Um Homem e Seu Sonho”, de Francis Ford Coppola

Tucker, Um Homem e Seu Sonho (Tucker, The Man and His Dream – 1988)

A história verídica de Preston Tucker (Jeff Bridges), um projetista que inovou a produção de carros em 1940. Seu primeiro emprego foi como office-boy na sede da Cadillac Motor Company, e durante toda a sua vida, Tucker foi um projetista e sempre elaborou planos industriais. Durante a II Guera Mundial, ele passou a fabricar veículos bélicos, mas com o fim do conflito, em 1945, ele destinou seu dom industrial ao seu grande sonho: construir um automóvel que fosse seguro, rápido, baixo, comprido e com boa aerodinâmica.

A saga de um sonhador que reuniu um pequeno grupo de amigos em um projeto ousado, sem consciência do monstro imbatível e cruel que estava enfrentando. Este resumo poderia ser sobre o início da carreira de Francis Ford Coppola, que meteu o pé na porta da indústria com “O Poderoso Chefão”, mas é a sinopse de “Tucker”, demonstrando a importância do elemento da identificação, o projeto, ainda que pouquíssimo atrativo comercialmente, falava diretamente ao coração do cineasta.

Ele idealizava o filme desde sua época de estudante, imaginava uma pegada “Cidadão Kane”, um conceito que anos depois evoluiria para um grandioso musical com composições de Leonard Bernstein, algo que seria impossível de realizar após o fracasso de “Jardins de Pedra” nas bilheterias. Por mais importância que Preston Tucker tenha na área automobilística, ele era um completo desconhecido para o grande público, o que afastou os investidores e preocupou os executivos dos estúdios.

Somente com a ajuda do amigo George Lucas, que tirou dinheiro do bolso para embarcar na aventura, o filme conseguiu receber sinal verde, mas o criador de “Star Wars” fez questão de tirar da cabeça do amigo a ideia de um musical, sugerindo uma abordagem mais convencional, com toques das fábulas libertárias de Frank Capra e Preston Sturges.

A fotografia impecável do mestre Vittorio Storaro garante o refinamento usual, brincando por vezes com cenas monocromáticas, mantendo o ângulo baixo, evidenciando a imponência do protagonista. Boa parte do mérito se deve à atuação irrepreensível de Jeff Bridges, pura energia e impulsividade, transmitindo o espírito do típico empreendedor entusiasmado que acredita no sonho norte-americano, encontrando equilíbrio na figura fascinantemente frágil de Martin Landau.

O resultado está mais para “Peggy Sue”, longe dos contornos sombrios que Coppola adora injetar nas obras em que opera com total controle criativo, mas é um tom inspirador que mantém o filme agradável em revisão, ele sobreviveu bem ao teste do tempo.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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