Críticas

“A Tocha de Zen”, de King Hu

A Tocha de Zen (Xia Nü – 1971)

A história de Yang Hui-ching (Feng Hsu), uma mulher que é caçada pela lei após terem eliminado seu pai. Ela irá se refugiar em uma pequena cidade. Lá conhece Shen Chai, um artista inteligentíssimo, e que a ajudará a se livrar de seus perseguidores.

Este clássico influente do diretor King Hu, adaptado da antologia “Strange Stories from a Chinese Studio”, fez história ao ser premiado em Cannes, um selo de prestígio que alçou o subgênero Wuxia ao patamar que merecia. A longa duração, mais de três horas, prejudica o ritmo no segundo ato e pode afastar aqueles que não estão acostumados com essa caligrafia mais delicada, ou aqueles que equivocadamente esperam encontrar um genérico filme de ação.

O olhar é contemplativo, as batalhas são pensadas em escala mitológica, a simbologia supera a beleza da coreografia, o protagonista apaixonado pela arte da pintura enfrenta as críticas da mãe que ambiciona para ele uma vida profissionalmente estável e romanticamente comum, cumprindo todos os rituais sociais.

A busca espiritual representada pelos monges budistas é ativada por um primitivo desejo humano, o interesse romântico do rapaz pela enigmática jovem interpretada por Feng Hsu, uma relação conturbada que revela contornos antagônicos ao projeto conformista da mãe, poeticamente ressaltando que não há lógica alguma na existência que objetiva a negação das funções intelectualmente estimulantes como recompensa para uma vida de trabalho, em suma, o filme também pode ser interpretado como uma ode à rejeição da aposentadoria como algo aceitável.

A mansão assombrada que afasta o povo temeroso, um recurso útil, acaba se revelando o cenário perfeito para que o protagonista treine estratégias de guerra, o misticismo sendo utilizado como veículo para uma modificação prática de atitude, a jornada que leva um homem inseguro a tomar o controle e aprender a se defender.

A famosa sequência de luta na floresta de bambus, que inspirou visualmente Ang Lee em “O Tigre e o Dragão”, desafia as leis da gravidade e evidencia a metáfora da reação diante dos obstáculos naturais. Os vilões cortam as árvores com suas espadas para liberar o caminho, a guerreira valorosa se adapta ao terreno, ela utiliza as plantas como extensões de seus braços e pernas, ela toma impulso nelas e surpreende os adversários.

* O filme pode ser encontrado em DVD e, claro, garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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