Críticas

“Malcolm X”, de Spike Lee, com DENZEL WASHINGTON

Malcolm X (1992)

Spike Lee lutou muito para que a cinebiografia de Malcolm X fosse finalizada, o estúdio tentou de todas as formas impedir seus esforços, até que ele buscou a ajuda financeira de amigos artistas e esportistas afro-americanos, que doaram altas somas sem qualquer interesse, sem participação nos lucros, apenas motivados pelo desejo de que aquela história fosse contada.

A batalha nos bastidores é mais fascinante que a própria produção, que seria muito beneficiada com o corte de, pelo menos, uma hora de gordura extra, um primeiro ato arrastado abordando a juventude do protagonista, problema que compreensivelmente prejudicou o filme nas bilheterias, afastou o público adolescente e, a pior consequência, minimizou o impacto da bela mensagem que defende. E uma mensagem que segue extremamente relevante nos dias de hoje.

Malcolm X, que negava inconscientemente sua raça na adolescência, questionou o papel do negro na sociedade, ele questionou os alicerces do catolicismo, ele se viu seduzido pelo fanatismo religioso de um charlatão e teve brio de admitir o erro, ele não temia sequer a morte, o homem chegou a ser preso, mas talvez tenha sido a personalidade mais livre de sua época. A sua liberdade interna, a coragem de questionar tudo e todos, um elemento incrivelmente perigoso para aqueles que lucram com a ilusão.

Jesus provavelmente era negro, os discípulos provavelmente eram negros, analisando o berço geográfico deles, mas as pinturas imortalizaram o longo cabelo liso, os olhos azuis, a tez clara como neve. Você pode não concordar, mas uma grande parcela de religiosos não apenas discorda, como o faz com agressividade latente. Qual a razão? Qual diferença faz a cor da pele do líder religioso? Esta preciosa reflexão, transmitida na ótima cena do confronto com o padre, vivido por Christopher Plummer, representa o gradual despertar existencial do protagonista, metaforicamente no local em que a sociedade o colocou como prisioneiro.

Denzel Washington, na melhor interpretação de sua carreira, emula os gestos calculados e compreende com exatidão as motivações de alguém que, ainda criança, sentiu a dor da intolerância, ao ver sua casa ser incendiada por mascarados da Ku Klux Klan. As nuances trabalhadas no desenvolvimento de seu discurso, da insegurança travestida de empáfia, passando pela rigidez estúpida do pensamento extremista, até a sobriedade lúcida de quem entendeu que o amor é a única verdade.

Apenas os mal-intencionados dividem para conquistar, a união e o diálogo são sempre melhores que o ódio.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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