Os Emigrantes (Utvandrarna – 1971)
O Preço do Triunfo (Nybyggarna – 1972)
A obra de Jan Troell é muito pouco conhecida no Brasil. Um intenso épico dividido em dois filmes, algo em torno de sete horas, contando uma história simples e poderosa ambientada no século 19, a jornada de uma pobre família sueca que decide emigrar para a América. O roteiro, adaptado dos quatro romances de Vilhelm Moberg, evita a estrutura tradicional alicerçada em arcos narrativos, demanda paciência do espectador, faz uso magnífico do silêncio, mas a recompensa é imediata.
O casal Kristina e Karl Oskar, impecáveis Liv Ullmann e Max von Sydow, enfrenta uma longa e devastadora viagem marítima, ponto alto de “Os Emigrantes”, a possibilidade real da finitude rondando cada nova manhã, infestação de piolhos, fome, desespero e depressão, a esperança simbolizada pelo novo mundo sendo destruída pela constatação de que eles não serão recebidos de braços abertos, não há senso de comunidade fraterna nessa terra de oportunidades trabalhada sem a visão mítica usualmente vendida por Hollywood.
O aspecto mais interessante, a forma como os personagens projetam uma imagem paradisíaca da América, buscando uma espécie de redenção para suas vidas, até serem surpreendidos pelo choque de realidade.
O desafio para os sobreviventes estava apenas começando. Kristina descobre na viagem que está com piolhos, coloca a culpa em outrem, o caos é instaurado, Ulrika, vivida pela cantora de jazz Monica Zetterlund, é humilhada ao ser chamada de mulher da vida, a causadora da infestação, mas ela prova que não tem culpa alguma, já acostumada a ser difamada por aqueles que se consideram superiores. Em metáfora, Kristina, com a mentalidade limitada pelos dogmas de suas tradições, está carregando para a nova realidade os preconceitos mais baixos, praticando o julgamento desaconselhado por Jesus e incentivado pelos dignitários que falam em seu nome, infectando as expectativas de um recomeço.
Em “O Preço do Triunfo”, ao receber em sua casa o representante de sua antiga comunidade religiosa, que deseja restabelecer o controle moral sobre seus fiéis, ela demonstra ter aprendido com a dor, tomando a frente na discussão e enxotando o homem de seu lar. A mulher da vida é agora sua melhor amiga. Em sua mente já não há espaço para a mentira confortadora.
Outro ponto alto do segundo filme é o interlúdio onírico inspirado na sequência final de “Ouro e Maldição”, de Stroheim, mostrando Robert, o irmão mais novo de Karl, e seu amigo Arvid perdidos no deserto, a deprimente faceta do sonho dos emigrantes.
Troell acumula as funções de editor e diretor de fotografia, além de ajudar no roteiro, um feito admirável considerando o escopo do projeto. Ele garante a todo momento uma abordagem quase documental, capturando a atuação naturalista do elenco, facilitando tremendamente a imersão.
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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