Críticas

“Namorados por Acaso”, de Mel Damski

Namorados por Acaso (Happy Together – 1989)

As comédias românticas adolescentes dos anos oitenta marcaram a adolescência da minha geração devido às exibições frequentes na “Sessão da Tarde”. O “Cinema em Casa”, do SBT, satisfazia mais os impulsos libidinosos da garotada, somos eternamente gratos aos programadores. “Namorados por Acaso”, eu consigo me lembrar exatamente da tarde em que vi pela primeira vez, com a dublagem maravilhosa da Herbert Richers, com Vera Miranda e Selton Mello garantindo o charme especial da nossa versão brasileira.

Patrick Dempsey era o ídolo dos garotos introvertidos, no que me incluo, já que defendia quase sempre personagens tímidos e que sofriam a rejeição das gatinhas da escola. E Helen Slater, como esquecer aquele rosto? A encantadora “Supergirl” vive Alex, uma espevitada estudante de artes cênicas, não poderia ser melhor.

O difícil era acreditar que Chris, o jovem escritor, por mais compenetrado que estivesse em sua arte, cogitaria sequer por um momento a hipótese de reclamar do gênero de sua colega de quarto. Forçada de barra compreensível, caso contrário não haveria trama para meia-hora de filme. Ele é uma caricatura divertida, dorme abraçado ao tomo “A Arte da Escrita”, mas só consegue criar algo interessante após encontrar sua musa inspiradora.

Claro que os dois vencem seus medos e ele se arrepende de ter sugerido uma substituição. É hilário quando ele finge ser o rapaz mais afetado do mundo, com ajuda dela, para afastar o outro estudante que foi enviado. Selton domina a cena com um caco espirituoso, ao pedir para que o visitante suba o zíper de seu vestido: “Faz essa caridade, tá, criança”. Aliás, a dublagem clássica entrega vários momentos deliciosamente debochados, como um vozerio na cena do banheiro masculino que insere a ária “La Donna è Mobile” na cantoria solitária de um estudante.

O roteiro procura tocar em temas típicos dos projetos mais refinados de John Hughes, ainda que nunca alcance o mesmo nível de credibilidade. O personagem Stanley é um símbolo desta tentativa, ele vive com uma “companheira” de plástico, elemento que o torna exótico e afasta qualquer relacionamento. A estratégia acaba sendo revelada no terceiro ato, a forma que ele, alguém decidido a aproveitar ao máximo os estudos, encontrou para não se deixar levar pelo pouco compromisso de seus pares.

Chris é o único que não o repele, logo, eles se tornam amigos e confidentes. Outra sequência que consegue emular Hughes ocorre no quarto, quando Chris e Alex, separados por uma cama beliche, encontram paz no simples toque das mãos, a linda cumplicidade entre pessoas perdidas num mundo de muitas possibilidades e cobranças sociais.

O mantra que simboliza o filme, repetido pelos dois em diversos momentos, “eu posso ser amado por você, você pode ser amada por mim”, a conclusão sincera que os redime. Como ela ressalta ao final, o melhor erro cometido pode ser libertário, abrir novos caminhos, não é necessariamente algo a ser temido. O amor pode estar ao seu lado, na figura de uma melhor amiga, aguardando apenas uma chance.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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