Repo Man – A Onda Punk (Repo Man – 1984)
Um jovem punk trabalha recuperando carros que não foram pagos e acaba por conhecer um cientista louco que sequestrou alienígenas.
“Este é Otto, louco, rebelde, agressivo, até arranjar uma perigosa profissão”. A chamada televisiva não preparava o espectador para a experiência, fazia parecer ser uma trama convencional.
O primeiro filme do cineasta britânico Alex Cox, que alcançaria maior reconhecimento com “Sid e Nancy”, não pode ser sintetizado em uma sinopse, nem reduzido a um gênero específico, “Repo Man” fala diretamente ao período sociopolítico norte-americano da era Reagan, debochando ferinamente do vexaminoso fenômeno dos televangelistas, cutucando a ferida exposta da desilusão nacional extravasada em rompantes patrióticos caricatos e vazios, além de criticar a pasteurização da atitude punk na juventude da época.
Ele também encontra espaço generoso para brincar com as convenções da ficção científica na subtrama do cientista e seu misterioso automóvel Chevy Malibu 64, com um porta-malas que desintegra todos aqueles que tentam descobrir o que está sendo carregado, uma espécie de McGuffin divertido, que foi homenageado por Tarantino em “Pulp Fiction”.
Quando Otto (Emilio Estevez) caminha pelas ruas de Los Angeles, ele encontra diversos adolescentes que agem de forma excessivamente agressiva, sem razão alguma, vestindo camisetas estampadas com seus ídolos na música, defendendo jargões batidos, uma rebeldia esquisita intensamente capitalista, nada orgânica, como na clássica frase “vamos comer sushi e sair sem pagar”, revolta de criança mimada, em suma, a visão estereotipada do movimento punk que o mundo do entretenimento eternizou em filmes deliciosamente tontos como “Desejo de Matar 3”.
O rapaz acaba descobrindo que os seus colegas coroas de cobrança automobilística, marginais sem verniz estético algum, são, de fato, a essência do punk, nadando contra a corrente de um sistema que estabelece controle etiquetando a felicidade embalada para presente.
Cox, genuíno apaixonado pelo tema, questiona o sentido desta expressão artística, evidenciando a banalização midiática do espírito desta subcultura.
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