Críticas

“Os Viúvos Também Sonham”, de Frank Capra

Os Viúvos Também Sonham (A Hole in The Head – 1959)

Tony Manetta (Frank Sinatra) é um viúvo dono de um hotel decadente em Miami. Seus problemas são, em grande parte, por culpa dele, pois é um irresponsável que só pensa em mulheres.

A única pessoa na vida dele capaz de colocá-lo nos trilhos é Ally (Eddie Hodges), seu filho de apenas 12 anos de idade. Endividado, Tony pede ajuda ao irmão Mario (Edward G. Robinson), que coloca algumas condições: ele deverá desistir do filho Ally ou se casar com uma mulher decente que ele indique. Só assim ele poderá ajeitar a vida e prosperar.

É quando surge Eloise Rogers (Eleanor Parker), uma encantadora mulher que poderá mudar os rumos da vida de toda essa família.

Ao contrário dos tipos sonhadores idealistas usuais na filmografia de Frank Capra, como o Jefferson Smith de “A Mulher Faz o Homem”, ou o George Bailey de “A Felicidade Não Se Compra”, Tony Manetta é apenas um tolo iludido, um vagabundo mulherengo que deseja abrir um parque temático sem ideia de como vai conseguir a verba para seu objetivo.

Os clássicos personagens defendidos por James Stewart lutavam por uma sociedade melhor e mais justa, mas não há nobreza alguma no viúvo hoteleiro vivido por Frank Sinatra, ele visa apenas o lucro.

Este era o desafio que estimulava o diretor, encontrar o encantamento por trás de uma trama sem heróis, inserir o difícil relacionamento entre pai e filho, com o pequeno demonstrando maturidade emocional e o adulto agindo frequentemente como criança. O mais próximo de um personagem adorável é o irmão mais velho, vivido por Edward G. Robinson, que parece ter prazer em ser desagradável com todos.

O estilo relaxado de Capra nas filmagens, absorvendo a experiência como parte do público, incentivava o elenco a encontrar nuances cômicas novas no texto em cada tomada, olhares, gestos, a recompensa era a risada que eles escutavam atrás da câmera.

Uma sequência genial, praticamente teatro filmado, reunindo Thelma Ritter, Sinatra e Robinson no quarto, um jogo de cadeiras com longos diálogos sem corte, evidencia o timing único do diretor em seu penúltimo projeto, após vários anos afastado da função. O terceiro ato investe no melodrama, com a entrada da belíssima Eleanor Parker, uma viúva que pode simbolizar a salvação financeira do protagonista.

É quando o roteiro, adaptado da peça de Arnold Schulman, responsável por “Funny Lady”, perde fôlego e conduz para um desfecho irregular, um final feliz que não soa crível, orgânico, mas que não prejudica o todo.

Vale destacar que “High Hopes”, composta por Sammy Van Heusen e Sammy Cahn, cantada em uma linda cena por Sinatra e o menino Eddie Hodges, venceu o Oscar de Melhor Canção.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Classicline”.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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