Vida (Life – 2017)
O filme dirigido pelo sueco Daniel Espinosa é um terror sci-fi extremamente competente, infelizmente prejudicado pelo setor de marketing que o vende como uma homenagem ao “Alien” de Ridley Scott. Esse tipo de estratégia causa um problema grave, insere o elemento da expectativa na equação.
É tolice comparar o cenário da indústria hoje com o do final da década de setenta, o ritmo da narrativa do clássico hoje não seria aceito pela garotada imediatista que vai para a sala escura para extravasar as frustrações sociais, falar alto e frequentemente checar mensagens no celular. Se o filme antigo, exatamente como ele é, tivesse sua estreia hoje, seria um fracasso nas bilheterias. É uma triste constatação de como a sociedade culturalmente deu passos largos para trás. A informação hoje precisa ser transmitida com rapidez publicitária, o roteiro apresenta os personagens, insere o conflito e conduz,
com muita ação, até o desfecho, essa é a fórmula. E, como crítico e público, aplaudo sempre que vejo um projeto no gênero que ousa se desviar dessa armadilha.
O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick não cria algo especialmente novo, mas utiliza um modelo desgastado como laboratório criativo, a câmera caótica no início desorienta o espectador, aproveitando a falta de gravidade no ambiente, refletindo o estado psicológico dos astronautas, longe de seus familiares e forçados a um convívio alimentado por sentimentos essencialmente artificiais. Com poucas cenas, não mais que vinte minutos, o companheirismo é estabelecido eficientemente. Ao mostrar eles respondendo questões de crianças no monitor, ou carinhosamente saudando o colega que acaba de conhecer em uma
transmissão de vídeo o seu filho recém-nascido, o espectador é levado naturalmente
a se importar com aqueles indivíduos, mérito que merece ser salientado. O elenco ajuda nesse sentido, o foco não é a construção de personagens, mas Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Ryan Reynolds, Olga Dihovichnaya e Aryion Bakare são carismáticos o suficiente, ainda que com poucas oportunidades dramáticas.
Quando a ameaça alienígena se faz presente, visualmente inofensiva a princípio, “Vida”, não tendo nenhuma relação com a criação de Ridley Scott, acaba se mostrando mais fiel ao espírito perturbador do primeiro “Alien”, que as sequências oficiais protagonizadas pelo xenomorfo. Outro ponto que merece ser ressaltado é a forma como a trama termina, utilizando um truque que sintetiza a mágica do cinema, a montagem como o ilusionista.
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