Críticas

“Desejos Proibidos”, de Max Ophüls

Desejos Proibidos (The Earrings of Madame de… – 1953)

Existem filmes que considero medicinais, poucos, conto nos dedos de uma mão, obras tão simples e perfeitas que resgatam minha esperança na humanidade. “Desejos Proibidos” entra nesta seleta lista.

Um olhar superficial pode enxergar apenas um melodrama sobre uma dama (Danielle Darrieux) da alta sociedade parisiense dividida entre o amor de dois homens, o marido militar (Charles Boyer) e um simpático diplomata italiano (Vittorio De Sica), qualquer telenovela entrega este material. É muito mais que isto.

Quando a conhecemos, ela está em seu quarto explorando a dimensão de sua riqueza material, joias, vestidos, tudo o que o dinheiro pode comprar. Em uma visita rápida à igreja, cena inteligentemente tratada como alívio cômico, ela ora despretensiosamente pedindo que seu marido a presenteie com algo bonito.

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Louise é frívola, uma caricatura decadente do vazio existencial aristocrático, que preza mais por sobrenomes nobres. Nunca ficamos sabendo o dela, crítica já exposta no título original, o interesse está no indivíduo, a análise da pobreza inerente a todos que se se julgam superiores em sua ganância exagerada. E o roteiro genialmente utiliza um par de brincos como o elemento que nos conduz na história, o presente inicialmente dispensável, que gradativamente recebe valor agregado de relevância emocional.

O marido outrora havia oferecido a joia como demonstração de exibicionismo social, algo que se mantém hoje em dia nos rituais caríssimos que muitos abraçam pensando em satisfazer outrem, o amor reduzido a moeda de troca, que ela, em situação de necessidade, decide vender.

A peça acaba nas mãos do diplomata, que genuinamente se apaixona pela mulher e, desconhecendo a origem da joia, devolve-a para a dona original, o presente não mais simbolizando superficialidade, mas sim, a necessidade de expressar o sentimento proibido.

O amor que ganha força a cada volta no salão de dança, em tempos distintos, o toque suave das mãos agindo como romântico desabrochar, a naturalidade lutando para vencer a crosta de farsa acumulada, a valsa entorpecente dos namorados admirada ao longe pelos olhos vigilantes daquele que se considera proprietário.

No terceiro ato, como forma de hipocritamente preservar sua honra, o general, tola mente tacanha movida pela violência, pede por um duelo. O embaixador, que preza pela lucidez e valoriza a paz, aceita o desafio consciente de que irá se sacrificar por um sentimento válido. Louise, já radicalmente transformada, retorna à igreja e agora ora dedicadamente pela vida do homem que ama.

É uma pena que o aprendizado sempre venha com a dor.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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