A Ilha das Almas Selvagens (Island of Lost Souls – 1932)
Lançada no mesmo ano do polêmico “Freaks”, de Tod Browning, também se beneficiando do crepúsculo da era mais ousada de Hollywood, antes da censura do Código Hays, esta primeira versão de “A Ilha do Dr. Moreau”, de H.G. Wells, entrega um dos desfechos mais brutais da história do gênero, apesar da vítima, o amoral doutor vivido pelo sempre competente Charles Laughton, merecer cada segundo do pesadelo que enfrenta, cercado por todos aqueles que escravizou e utilizou como cobaias de seus experimentos em sua ilha, misturando genes de humanos e feras, conceito bizarro que ainda não perdeu impacto, o filme segue eficiente em revisão.
Uma subtrama, em especial, seria impossível com a censura, a tentativa macabra de facilitar a relação sexual entre o marinheiro Edward (Richard Arlen) e a enigmática mulher-pantera Lota (Kathleen Burke), com o doutor brincando de Deus ao manipular suas versões distorcidas de Adão e Eva, uma sequência perturbadora, já que o rapaz ignora a natureza animalesca da bela seminua que o deseja, com seus movimentos corporais emulando o comportamento de um felino.
Bela Lugosi como o líder das feras, o responsável por mantê-las obedientes ao controle do doutor pela tortura, um papel que é potencializado na fotografia soturna de um mestre que trabalhou em “Aurora”, de Murnau”, e que anos depois faria parceria com Chaplin em “O Grande Ditador” e “Luzes da Ribalta”: Karl Struss, quase sempre aproximando ameaçadoramente na câmera o rosto peludo, maquiagem de Wally Westmore, um recurso visual pensado para a tela grande.
O grande mérito da obra está na atmosfera arrepiante que consegue estabelecer logo nos primeiros minutos. Apesar da versão de 1977, dirigida por Dan Taylor, ser mais conhecida pelo grande público, o clássico de Erle C. Kenton segue sendo minha versão favorita da obra.
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