Monika e o Desejo (Sommaren med Monika – 1953)
A simplicidade é o último grau de sofisticação, como já dizia Leonardo Da Vinci, exatamente por este motivo discordo do senso comum que insere Ingmar Bergman no panteão dos diretores de “filmes cabeça”.
É um conceito equivocado que incita apenas o desprezo daqueles que, compreensivelmente, consideram um termo arrogante, primo próximo da terrível frase: “este filme não é para todos”.
O diretor sueco apenas não se permitia subestimar a inteligência do público, algo cada vez mais raro. Com pouco tempo de duração, os seus roteiros diziam muito, convidando o apreciador a refletir sobre os temas durante e, principalmente, após a sessão.
“Monika e o Desejo” causou muita polêmica na época por tratar do romance de adolescentes e a gravidez antes do casamento, o corpo da bela Monika (Harriet Andersson) representando o elemento libertário, inconsequente, que contamina o pacato Harry (Lars Ekborg).
O jovem casal, cansado da rotina diária de seus inglórios trabalhos, decide largar tudo e se aventurar pelo mundo fugindo de barco para uma ilha, até que, em pouco tempo, as responsabilidades do mundo adulto e a cobrança da sociedade invadem brutalmente o sonho idílico.
A utilização genial da quebra da quarta parede, como quando Monika convida o espectador a julgar sua atitude, aceitando que a utopia da vida sem limites é ingênua e pode ser fragilmente dominada pelo desejo, cena profundamente triste em essência, já que, ao trair a confiança do namorado, a personagem decreta finitude em vida, o total desprezo por sua própria imagem no espelho.
A paixão que nasceu como válvula de escape não consegue sobreviver à bonança, a estabilidade faz vir à tona o real caráter, que havia se escondido no desespero por ar daquele ser que existencialmente se afogava.
Em seu momento de reflexão, ao final, Harry, abandonado e segurando no colo o inocente fruto da relação intempestiva, o resultado físico de sua irresponsabilidade, resgata em sua mente doces momentos perdidos no tempo, o corpo de Monika banhado pelo sol, o afago recebido.
Bergman demonstra que, apesar de tudo, ainda é possível encontrar beleza até no erro cometido.
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