Vitória Amarga (Dark Victory – 1939)
Edmund Goulding queria Greta Garbo para o papel principal, mas ela estava ocupada com “Anna Karenina” para a MGM. A peça original, defendida nos palcos por Tallulah Bankhead, não era um primor, precisou ser reescrita várias vezes, mas o diretor enxergava na trama um forte potencial cinematográfico, algo que ficou comprovado quando o roteirista Casey Robinson entregou a adaptação.
O melodrama poderia facilmente pender para o sensacionalismo em seu terceiro ato, mas o tom que se estabelece já nos primeiros minutos é de reverente piedade, respeito pelos personagens, com atuações contidas de todo o elenco, com exceção de Ronald Reagan, equivocado tipo que parece verdadeiramente ter entrado no set de filmagem errado.
Os produtores odiaram a ideia, quem pagaria ingresso para ver algo tão depressivo? O competente britânico só conseguiu sinal verde para o projeto quando Bette Davis, ciente das tangíveis possibilidades de conquistar um Oscar, abraçou a causa e lutou bravamente por ela. A atriz, em um de seus melhores momentos, eleva a qualidade do texto com insinuações de olhares e gestos. A cena final é tão simples e, ao mesmo tempo, tão profunda. A vitória suprema, a redenção à beira do abismo.
Judith (Bette Davis) se esquiva com grosseria quando as pessoas próximas tentam ajudar, jovem despreocupada e mimada pela vida, ela teme os sinais físicos de que algo está errado. A alegria das festas, aquela que sempre tinha uma resposta rápida para qualquer coisa, sofre agora com dores de cabeça constantes. Aconselhada a procurar um especialista após um grave acidente enquanto cavalgava, ignora que sofre de um maligno câncer cerebral. A cirurgia pode apenas garantir mais alguns meses.
O médico Steele (George Brent), encantado com a força da paciente, sente que está se apaixonando pela primeira vez. A mulher, que nunca se doou a ninguém, precisou cair do cavalo para encontrar o homem de sua vida.
Ao escolher não revelar para a esposa que a cirurgia apenas adiava um pouco o fim, ele conscientemente retira da equação o elemento do medo, o real problema que precisa ser subjugado. E ela, no emocionante desfecho, mentindo para ele sobre a cegueira que já a dominava, devolve com classe a gentileza. Judith havia se tornado uma pessoa melhor, ela existencialmente foi salva por aquilo que precocemente acabou com sua vida.
1939 foi um dos melhores anos na história do cinema, “Vitória Amarga”, usualmente eclipsado por outros medalhões, não envelheceu sequer um dia!
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Ótimo texto. Deu vontade de rever o filme.
Nossa...cheguei a ficar arrepiado com esse belíssimo texto. A era de ouro de Bette Davis na Warner rendeu ótimos filmes. Estranha passageira e A Carta são otimos.