“Viva Las Vegas” foi filmado antes, mas lançado depois de “Kissin’ Cousins”, o que já evidencia uma característica fundamental do segundo, a produção de baixíssimo orçamento, filmada em duas semanas. O empresário, preocupado com os custos do refinamento do anterior, quis garantir que o próximo compensaria na rapidez, então convocou o produtor Sam Katzman, especialista em extrair leite de pedra.
Apesar dos obstáculos naturais, os cortes financeiros são facilmente perceptíveis se comparados à “O Seresteiro de Acapulco”, por exemplo, o roteiro de Gene Nelson e Gerald Drayson Adams, especialista em tramas leves e agradáveis, como “A Princesa do Nilo”, foi indicado para o prêmio do sindicato de roteiristas na categoria musical.
Com Caipira Não Se Brinca (Kissin’ Cousins – 1964)
Josh Morgan (Elvis Presley) é um oficial do Exército que precisa visitar parentes caipiras e convencê-los a permitirem que uma base de mísseis seja instalada em suas terras.
Se fosse lançado alguns anos antes, teria sido elogiado pela crítica como despretensiosa comédia, o problema foi o timing, os Beatles invadiam os Estados Unidos, a juventude vibrava com a atitude roqueira dos garotos britânicos, já não tinham paciência para ver Elvis, o ídolo rebelde de outrora, inserido em uma trama cômica caricatural sulista. Mas, em revisão, o filme segue divertido, espécie de primo pobre de “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, utilizando sua estrutura simples como base para sequências encantadoras emolduradas por boas canções.
O diretor Gene Nelson era dançarino, o que garantiu o alto nível das coreografias no terceiro ato. O trabalho rendeu a ele uma nova parceria com Elvis, no inferior “Feriado no Harém”, no ano seguinte. O elenco era ótimo, com Glenda Farrell, veterana de obras como “Almas no Lodo”, clássico gângster da Warner, o impecável Arthur O’Connell, que já havia trabalhado com Elvis em “Em Cada Sonho Um Amor”, e a bela Yvonne Craig, que namorou com o cantor durante um tempo, irresistível em seu misto de ingenuidade e malícia, que se tornaria mundialmente conhecida anos depois como a Batgirl da série “Batman”, com Adam West.
O elemento inovador foi o truque visual que permitia que Elvis realizasse dois papeis, o militar elegante da cidade grande e o seu primo caipira abrutalhado, a diferença estava apenas na cor do cabelo. O recurso é executado favorecendo o humor, não há intenção alguma de aprofundar o desenvolvimento dos personagens. O cantor havia acabado de conquistar a faixa preta de karatê, uma de suas paixões, ele estava motivado, trabalhando nuances de interpretação que diferenciassem um tipo do outro. O grupo feminino das “mulheres gavião”, beldades da montanha que perseguem os homens que se aproximam do local, elemento que realça o tom antinatural de desenho animado, funciona exatamente por ser coerente com o todo.
A trilha sonora não é especialmente boa, mas as canções funcionam dentro da proposta. “Kissin’ Cousins” (a segunda versão, escutada ao final, com o cantor defendendo o sotaque puxado nas linhas entoadas pelo caipira), a irônica balada “One Boy, Two Little Girls”, “Once is Enough”, “Tender Feeling” e “There’s Gold in The Mountains” merecem destaque dentro da filmografia de Elvis.
O sucesso nas bilheterias, comparado com “Viva Las Vegas” e sua refinada produção, estimulou o Coronel Parker a investir sem medo nos anos seguintes em uma fórmula duvidosa: filmagens rápidas, baixo custo e muitas canções.
A Seguir: Amor à Toda Velocidade (Viva Las Vegas)
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