O Cair das Folhas (Falling Leaves – 1912)
Em 22 de Março de 1895, a francesa Alice Guy Blaché é convidada pelos irmãos Lumière para testemunhar uma demonstração do cinematógrafo. No ano seguinte, apaixonada por aquela nova ferramenta que, ao contrário dos seus anfitriões, enxerga como potencial recurso de entretenimento, ela escreve e dirige “La Fée aux Choux”, com apenas sessenta segundos, mas pioneiro na utilização da narrativa ficcional, quando o usual era captar cenas comuns do cotidiano.
Ela foi a responsável por inserir teatralidade na equação. Quase sempre eclipsada por Georges Méliès nas páginas da história, ela teve papel fundamental no processo inicial de amadurecimento desta arte, fazendo questão de manter total controle criativo em suas produções, da escolha de figurinos, passando pela seleção de elenco, até a pesquisa para encontrar as locações adequadas.
Infelizmente, grande parte de seus trabalhos foram perdidos, mas aqueles que sobreviveram seguem inspiradores. Como admirador dos textos de O. Henry, gosto especialmente do curta “O Cair das Folhas”, inspirado livremente em um de seus contos mais bonitos: “The Last Leaf”, que também foi adaptado em “Páginas da Vida”, de 1952.
A trama simples evoca a pureza da criança. Ao escutar o médico da família informar elegantemente que sua irmã mais velha, com tuberculose, “morrerá ao cair da última folha de outono”, a pequena, vivida por Magda Foy, idealiza um plano para impedir a fatalidade, ela inocentemente utiliza fios de barbante para prender as folhas nos galhos e devolver aquelas que já haviam caído.
A linda atitude impulsiva da menina, deixando a cama e desobedecendo a ordem dos adultos, possibilita que seu caminho se cruze por acaso com o de um médico que passeava na região. Ao revelar a razão por trás de seu gesto exótico, ele, que estava trabalhando em uma cura, vai ao encontro da enferma, conduzido pela mão daquela corajosa menina de seis anos de idade que ousou lutar contra algo que era tido como impossível pelos mais velhos.
A poética inocência venceu o medo. A opção pela naturalidade nas atuações, marca registrada da diretora, garante alguns momentos encantadores.
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As mulheres, ao longo da história, foram ofuscadas por homens - não desmerecendo a criação masculina, mas reconhecendo que o machismo sempre sufocou a luz de mulheres iguais a esta. Na Arte não foi diferente.
Desconhecia a história de Alice Guy Blanché.
Parabéns pela matéria!
Abraço!
Em tempo: quando eu disse 'foi assim na Arte' queria indicar as Artes Plásticas, área a qual estou ligada, citando Camile Claudel, Mary Cassatt, e tantas outras.