Doentes de Amor (The Big Sick – 2017)
O comediante paquistanês Kumail e a estudante de graduação Emily se apaixonam, mas encontram dificuldades quando suas culturas entram em conflito.
A melhor comédia romântica do ano, baseada no conturbado início de namoro de um jovem comediante paquistanês e uma estudante de psicologia norte-americana, com direção correta de Michael Showalter e produzido por Judd Apatow. O roteiro é escrito pelo próprio casal, Kumail Nanjiani, que também protagoniza a obra, e Emily V. Gordon, que é interpretada por Zoe Kazan.
O choque de culturas já seria interessante o suficiente, a angústia do rapaz que é guiado pelos pais egoístas à uma escolha profissional indesejada e encontros românticos arranjados em que o amor é o elemento menos importante na equação. Se ele demonstrar interesse em uma garota que não seja de sua cultura, a família se sente envergonhada e rompe a relação de afeto com o filho.
É a tradição de seu país, assim como a oração diária que ele finge fazer enquanto checa os vídeos engraçados na internet, um cabresto social/religioso que pode ter profunda relevância para seus pais e irmãos, mas que não significa absolutamente nada em sua vida. A forma como o texto orgânico trabalha a questão, aliada à entrega incrivelmente natural do elenco, faz com que em poucos minutos o espectador esteja conectado emocionalmente aos personagens, o que é essencial para a eficiência narrativa do ponto de virada, quando o fator da imprevisibilidade conduz a trama além das convenções usuais do gênero.
Sem revelar muito para não estragar a experiência, a beleza não está no desenvolvimento da relação do casal, afastados por boa parte do tempo, mas na radical transformação que é operada gradualmente no relacionamento que se estabelece entre o jovem e os pais dela. O arraigado preconceito dos dois, vale destacar, grande momento de Holly Hunter e Ray Romano, símbolo da ignorância e do medo que alimentam a incapacidade de demonstrar empatia, estado gerado pela insegurança e imaturidade, como fica latente em várias sequências, reduzia aquele rapaz a um estereótipo cruel.
Se nos palcos ele conseguia reverter as eventuais provocações de membros deselegantes da plateia com desenvoltura, carecia da mesma ousadia no cotidiano, buscava internamente a aceitação profissional e se sentia culpado por não respeitar suas raízes. Ao ensinar carinhosamente para eles a necessidade de se tentar compreender o outro, ele acaba se tornando psicologicamente mais seguro.
O conflito e a dor dos três se mostra o aprendizado mais valioso, a capacidade de adaptação, leitmotiv representado essencialmente pela habilidade do comediante que vive do improviso, forja indivíduos melhores.
A execução é adorável, o tema é precioso. “Doentes de Amor”, apesar do péssimo título nacional, é o melhor filme em cartaz no momento.
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