Artigo

A perigosa ascensão do neopentecostalismo no Brasil

* Texto escrito em 4 de agosto de 2014, para minha extinta coluna no site da colega jornalista Anna Ramalho, que resgato hoje, já que o tema se mantém atual (e perigoso) em nosso cenário político.

Os estelionatários, sem pagar impostos, somente crescem em número, alimentados pela ingenuidade de um povo carente, fortalecidos pela omissão de muitos. Eu me envergonho de emissoras de televisão que abrem espaço em suas programações para estes mercadores da fé. Artistas que deixam os princípios na porta do escritório do contrato, avalizando com sua popularidade estes exploradores sem escrúpulos.

Você pode escrever cinquenta laudas sobre a invasão dos neopentecostais desde a década de setenta no Brasil, simbolizada por televangelistas, com foco jornalístico, aprofundando na questão da histeria coletiva que ocorre nos cultos, em efeito placebo, glossolalia, cultura do medo, pode escolher a vertente psicológica. Quem realmente precisa compreender
esta questão nunca irá se interessar em ler suas linhas, não por motivo de gosto pessoal, simplesmente por não ter o hábito da leitura. É um equívoco tentar modificar a forma de pensar daqueles que agem sem raciocínio lógico, por puro impulso.

Qualquer pessoa minimamente instruída reconhece as razões óbvias do crescimento do neopentecostalismo exatamente nas regiões mais pobres, a força que a vestimenta elegante e os rituais exercem naqueles mais sugestionáveis. Estes não precisam nem ler mais sobre o assunto, pois já estudaram a fundo o tema. Você pode preparar textos profundos analisando o assunto, abordando a utilização intencionalmente equivocada do Velho Testamento, mas irá satisfazer apenas os que já compartilham da mesma opinião.
O neopentecostalismo NÃO foi pensado com tanto refinamento ideológico.

Você pode afirmar que os pastores, assim como vendedores de qualquer loja, recebem metas mensais com planilha de comissão. Você pode afirmar que eles aprendem numa espécie de workshop sobre como abordar o cliente com a contundência necessária para que ele entenda que somente receberá as bênçãos que precisa ao oferecer dinheiro. Quanto maior a soma, melhor serão as glórias conquistadas. Se ele não oferece dinheiro, ele não é especial, não foi “tocado” pelo divino. Existem até vídeos que mostram pastores discutindo
sobre como iludir melhor neste intuito, mas aquele que não quer enxergar, aquele que necessita do conforto que a ilusão oferece, não aceita a informação como verdadeira, numa espécie de variação da dissonância cognitiva que, em níveis diferentes, atinge todos os praticantes de qualquer religião.

É como o cigarro. Ninguém obriga o cidadão a comprar o maço e destruir gradativamente seu organismo. Ele ignora até mesmo a imagem horrível do pulmão doente que acompanha a embalagem, dizendo que está ciente do mal que aquilo faz. Não temos que focar no “cigarro”, mas, sim, no psicológico de quem o compra. Existe o elemento da consciência no caso que cito no texto? A fé seria um vício, simbolizado pelo interesse em repetir o efeito placebo da dor que deixa de ser sentida momentaneamente?

A histeria coletiva dos cultos, um verdadeiro show patético com exorcismo de falsos endemoniados, não seria um extravasamento, o ponto alto em um dia chato e sem brilho? Como combater algo que é desejado intensamente? O objetivo deve ser, em longo prazo, inserir na equação nefasta o único elemento que pode acabar com o reinado dos espertos: Educação. Um povo educado, lúcido, culto, age conscientemente, logo, está imune aos berros dos pastores.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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