Críticas

“Braço de Diamante”, de Leonid Gaidai

Braço de Diamante (Brilliantovaya Ruka – 1968)

O cidadão soviético Semyon Gorbunkov sai a passeio num cruzeiro marítimo. Em seu retorno, acaba levando à URSS joias escondidas por engano no gesso colocado em torno de seu braço esquerdo depois de uma queda em Istambul. Enquanto os contrabandistas realizam várias tentativas para recuperar as pedras preciosas, um capitão da polícia russa usa Gorbunkov como isca para pegar os criminosos.

A ideia é um misto de sátira dos filmes de James Bond, que gozavam de extrema popularidade na época, com uma debochada visão sobre o modo de vida dos soviéticos, mas o que verdadeiramente se destaca é a forma como o roteiro libertário subverte as convenções cinematográficas desde os créditos iniciais, que prometem prólogo, divisão em partes e epílogo, uma pretensão épica que já é quebrada logo na primeira sequência.

Não há prólogo, não há epílogo e a segunda parte é anunciada após um intervalo poucos minutos antes do fim. É compreensível a fama da obra em alguns países, apesar de ser desconhecida no Brasil, não é uma comédia simplória, abraça variadas vertentes, do pastelão ao humor mais refinado usualmente encontrado nas produções inglesas. A dupla Yuriy Nikulin (que era palhaço de circo) e Andrey Mironov esbanja carisma, especialmente no agitado e superior terceiro ato.

O roteirista/diretor Leonid Gaidai tem umas sacadas brilhantes, como a cena do jovem que “caminha sobre a água”. Ele admirava Chaplin, logo, fica clara a inspiração em diversos momentos que utilizam com inteligência o silêncio. Nem todas as piadas atravessam a fronteira, o texto não é pensado para entreter o público estrangeiro, mas, ainda assim, o resultado é acima da média e, mais importante, segue eficiente nos dias de hoje.

Excelente resgate em DVD da distribuidora “CPC-Umes Filmes”.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “CPC-Umes Filmes”.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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