Críticas

“Perfume de Mulher”, de Dino Risi, com VITTORIO GASSMAN

Perfume de Mulher (Profumo di Donna – 1974)

O capitão Fausto perdeu a visão e uma das mãos num acidente, tornando-se um homem amargurado e cínico. Sua tia contrata Giovanni, o jovem recruta de uma escola militar, para escoltar o deficiente visual em uma viagem pela Itália, de Turim a Nápoles. Sem que o rapaz saiba, o velho capitão tem planos secretos para o final da viagem.

A refilmagem norte-americana protagonizada por Al Pacino entrega diversas sequências memoráveis, como aquela emoldurada pelo clássico tango de Gardel: “Por una cabeza”, interlúdio musical pleno em simbolismo que não existe no original, ou a defesa apaixonada dos valores éticos do jovem para o comitê de disciplina da universidade, uma subtrama bonita que também não existe no homônimo italiano, mas sofre com graves problemas de ritmo em sua longa duração, além de optar por um frágil final feliz convencional.

Eu gosto muito de um filme subestimado na carreira de Dino Risi, “Operazione San Gennaro”, hilária farsa nos moldes do “Os Eternos Desconhecidos”, de Monicelli. “Aquele que Sabe Viver”, com roteiro co-escrito por Ettore Scola, outra pérola descompromissada, segue eficiente nos dias de hoje. Quando o diretor tentava se levar mais a sério, como em “Perfume de Mulher”, o resultado era irregular.

Adaptado do ótimo livro “A Escuridão e o Mel”, lançado em 1969 por Giovanni Arpino, que está fora de catálogo no Brasil, mas pode ser encontrado em sebos, o roteiro de Ruggero Maccari apresenta um protagonista deficiente visual e maneta que adota o rígido código de conduta militar como instrumento de defesa existencial, mascarando sua fragilidade psicológica com rompantes constantes de grosseria.

Vittorio Gassman, que recebeu o prêmio de Melhor Ator em Cannes por este papel, injeta humanidade e insinua por trás da empáfia teatralizada a patética submissão à bebida, em suma, ele é grosseiro com todos à sua volta, exatamente por ter consciência de que é o mais miserável e vulnerável. A bela Sara, vivida por Agostina Belli, cortejada pela fotografia elegante e melancólica de Claudio Cirillo, a única jovem que guarda na lembrança o homem seguro que ele outrora foi, sonha diariamente ser correspondida em seu sentimento.

Ao abandonar o estereótipo machista, ele vence a amargura e se aceita em sua atual condição, logo, consegue se libertar do medo. Ele, enfim, aceita a ajuda da mulher amada para caminhar na escuridão. A cegueira fez com que ele aprendesse a enxergar a realidade. O personagem só se torna, de fato, um homem, quando abandona a patética fachada reducionista de “macheza” determinada pela sociedade.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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