Cortina Rasgada (Torn Curtain – 1966)
Um cientista americano (Paul Newman) vai para Copenhague a fim de participar de um congresso internacional e física e leva sua noiva/assistente (Julie Andrews). Lá, ela intercepta uma mensagem destinada a ele e descobre que seu noivo está desertando para Berlim Oriental, onde pretende conseguir fundos para seu projeto.
O filme foi muito mal recebido pela crítica na estreia e é fácil perceber a razão, o roteiro bobo e confuso escrito por Brian Moore realmente não funciona e há pouca química no casal imposto pelos produtores, Julie Andrews, que havia acabado de conquistar fama mundial com “Mary Poppins” e “A Noviça Rebelde”, e Paul Newman, um dos atores mais respeitados de sua geração. Algumas teorias apontam como motivo principal o direcionamento temático contrário à ideologia socialista/comunista de grande parte dos jornalistas da época, mas prefiro crer que o profissionalismo e a ética superavam qualquer discordância.
Os primeiros dois atos são tremendamente arrastados e o fraquíssimo terceiro é prejudicado com a inclusão da personagem da condessa vivida por Lila Kedrova, subtrama que não leva a lugar algum e quebra o ritmo já bastante combalido. Outro problema é a trilha sonora sem personalidade, Hitchcock desfez a parceria com Bernard Herrmann, que já havia composto material de alta qualidade para o filme, substituindo o gênio por John Addison e uma pegada mais pop, datada e irrelevante. Com a história falhando em cativar o público, a atenção rapidamente acaba sendo desviada para elementos que usualmente não contariam como pontos negativos, por exemplo, a utilização excessiva característica da projeção traseira nas cenas. O diretor sempre fez uso generoso do recurso, mas em “Cortina Rasgada” incomoda e enfraquece a imersão, já que o investimento emocional é raso, em alguns momentos causa até riso involuntário.
Mas cinema é uma arte maravilhosa, até mesmo em obras menores podemos encontrar momentos brilhantes. A sequência que envolve a fuga do casal no ônibus da organização Pi é teoricamente bizarra, porém, uma aula de construção de suspense. E como esquecer da pancadaria entre Gromek (Wolfgang Kieling) e Armstrong (Newman) na fazenda? A montagem desconstrói a espetacularização das brigas no gênero, evidenciando a dificuldade de um homem que não é, por natureza, violento, enfrentar alguém com os punhos na vida real.
A participação da cúmplice, bom momento de Carolyn Conwell, potencializa a angústia, com a edição mostrando que o ato de esfaquear alguém, mesmo em defesa pessoal, demanda incrível esforço. É uma sequência longa, brutal, inteligentemente silenciosa, propositalmente feia em sua estética, inesquecível.
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