Críticas

Rebobinando o VHS – Espada e Feitiçaria B dos Anos 80

Eu já preparei uma lista dos melhores filmes de Espada e Feitiçaria, mas não poderia esquecer pérolas do subgênero que movimentaram as locadoras de vídeo nas décadas de oitenta e noventa, obras que não são símbolos de qualidade, algumas causam até vergonha alheia, mas que se mantém vivas na memória afetiva dos cinéfilos da época. Segue abaixo uma visão descontraída e nostálgica. E, claro, não se esqueça de rebobinar ao final.

A Espada e os Bárbaros (The Sword and The Sorcerer – 1982)

O rei Cromwell (Richard Lynch) tenta conquistar um reino cujo exército é invencível. Com a ajuda de Xusia (Richard Moll), um feiticeiro monstruoso e muito poderoso, consegue vencer a batalha e fazer daquele local o seu reino maligno. Anos mais tarde, Talon (o canastrão Lee Horsley), o filho do rei eliminado, se torna um guerreiro mercenário e lidera um grupo de saqueadores. Quando retorna ao antigo reino de seu pai, ele resolve se vingar, libertar o povo da tirania e conquistar o coração da bela princesa (Kathleen Beller). Filme de estreia do diretor Albert Pyun, pupilo de Akira Kurosawa e mestre na arte de operar milagres com baixíssimo orçamento.

Destaco o desequilíbrio absurdo no tom, o início promete um clima sombrio, pesado, mas após os primeiros vinte minutos, o roteiro se entrega a situações cômicas, com utilização generosa de piadas fálicas sobre o “tamanho da espada”. A trilha sonora é tão excessivamente épica que, contrastando com a escala modesta das filmagens, acaba causando mais risos involuntários do que empolgando. É bastante divertido, ritmo agitado, tem algumas exibições de nudez feminina, algo que contava muitos pontos favoráveis na análise do adolescente de outrora, uma espada de três lâminas engenhosa e completamente inútil, em suma, imperdível! É o melhor título nesta seleção, o que não significa muita coisa.

Sorceress (1982)

Já nos primeiros dez minutos, após algumas exibições de sequências de ação genéricas, o espectador é presenteado com a maravilhosa visão das lindas irmãs gêmeas (repito, gêmeas) Leigh e Lynette Harris alegremente nadando nuas no rio, depois enfrentando um deus dos bosques voyeur, com a câmera generosamente admirando seus corpos. E, por tudo que é sagrado, elas exibem com orgulho sempre que possível. O valor da locação da fita era pouco perto da satisfação que momentos inocentes (a maldade está nos olhos de quem vê, claro) como estes traziam ao pobre garoto tímido que chegava cansado da escola. Qualquer cena de invasão de vilarejos era desculpa para que os guerreiros inimigos arrancassem a roupa das pobres camponesas, a pilhagem neste filme é puramente apimentada. A garotada compreensivelmente torcia para os vilões.

A trama é irrelevante, o nível das atuações é um desastre, a coreografia das batalhas é incrivelmente incompetente, o bacana era ver as duas heroínas correndo em câmera lenta, apreciando a ação da gravidade. O diretor Brian Stuart, na realidade, não existe, foi criado pelo produtor Roger Corman, unindo os nomes de seus dois filhos, para remover o crédito de Jack Hill, responsável por ótimas obras blaxploitation, que deve agradecer a decisão até hoje. Se “Sorceress” não entrasse nesta lista, eu estaria sendo tremendamente ingrato.

Senhor das Feras/O Príncipe Guerreiro (The Beastmaster – 1982)

Tanya Roberts no auge da beleza e seminua durante boa parte da trama. Vendi o filme? Não? Então fique pela direção do Don Coscarelli, que havia realizado o ótimo “Phantasm” (1979), arriscando um gênero diferente e fazendo o possível com o material. Após ver na infância em VHS e na “Sessão da Tarde”, revi para preparar esta postagem e afirmo com toda segurança: “Senhor das Feras” é terrível. A sinopse não pode ser criticada por propaganda enganosa, ela define bem a simplicidade tosca do projeto: Em uma terra de magia e bruxaria, vive Dar (Marc Singer), o Príncipe Guerreiro, senhor dos animais.

Ao seu lado, Kiri (Roberts), seu grande amor, que acaba como prisioneira do Rei dos Terrons. O jovem embarca numa desenfreada busca para salvá-la das mãos cruéis do inimigo. Sempre ao lado de seus fiéis companheiros: Sarah, a Águia; Ruh, o Tigre; Kodo e Podo, duas doninhas. Eu lembro que eu me divertia mais vendo o “TV Animal”, apresentado pelo Gugu Liberato. O herói bárbaro nasce de uma vaca, o que faz com que ele consiga se comunicar com os animais. Legal, né? O conceito é tolo, mas a execução consegue deixar tudo ainda mais tolo. Vale destacar a trilha sonora composta por Lee Holdridge, único mérito inegável da obra.

Deathstalker – O Guerreiro Invencível (Deathstalker – 1983)

Num tempo e numa terra distantes, o guerreiro Deathstalker (Rick Hill) luta contra um terrível feiticeiro chamado Munkar (Bernard Erhard), que escraviza todo um reino. Para isto, precisa reunir os três poderes que governam o mundo medieval: a pedra-amuleto, o cálice da visão e um segredo, que será seu maior desafio. Não se deixe enganar pela trama incrivelmente promissora, o filme é apenas mais uma desculpa divertida para um show de nudez feminina, não canso de repetir, elemento fundamental na cinefilia dos rapazes introvertidos de outrora.

O roteiro ilógico é de uma estupidez monumental, mas uma estupidez fascinante, que convida à revisão. Perfeito para ver numa madrugada insone com a companhia inebriante do whisky. Eu poderia analisar algumas sequências, mas, sinceramente, eu estaria forçando uma barra absurda, existem filmes que realmente sobrevivem muito bem sem este esforço. “Deathstalker” cumpre sua função. E eu disse que tem a presença encantadora da coelhinha da Playboy: Barbi Benton? Ah, doces lembranças da minha adolescência.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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