Reflexão breve enquanto o país está em estado de coma. O Rio
de Janeiro está quebrado, a cidade passa por uma crise monumental, os
professores e policiais continuam recebendo atrasado um salário de miséria,
protestos violentos a torto e a direito, regiões sem saneamento básico,
insegurança nas ruas atingindo níveis de zona de guerra, pacientes morrendo nos
corredores dos hospitais, logo, uma infinidade de motivos para que o cidadão carioca
viva plenamente a folia carnavalesca.
É usual escutar a expressão: “O ano no Brasil só começa
depois do Carnaval”. Será que você já parou para pensar em como esta
constatação é incrivelmente vergonhosa? O deselegante contumaz que sorri diante
do abismo, aquele que não é pontual, que enforca o feriadão e só pensa em tirar
vantagem, segue a mesma cartilha canalha do político que é alvo de sua
metralhadora verborrágica nas redes sociais. A mudança não depende do governo,
a salvação não virá do alto, os adultos estão infantilizados colocando a responsabilidade
nos ombros de supostos heróis, enquanto seguem letargicamente a incansável
procissão dos bobos alegres. Acredite, não há sistema político podre que
sobreviva em uma sociedade lúcida. É a atitude do indivíduo que importa, a
forma como ele reage em situações de crise.
Não demonizo a celebração tradicional, longe disso, somente
incito o questionamento sobre a importância de acusar a dor do açoite como
sinal de desconforto. Há uma corrente argumentativa que defende o valor
turístico do evento. Os cassinos de Las Vegas transformaram o deserto em um
paraíso. Caso o polpudo investimento anual no Carnaval gerasse algum legado
importante para o país, ao invés de constarmos frequentemente nos últimos
lugares das estatísticas mais deprimentes, nós hoje seríamos o Japão, a Suécia,
a Alemanha, ou a Finlândia. Será que os povos destes países festejariam em
tempos de crise extrema em todos os níveis?
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