Biquinis de Saint-Tropez (Le Gendarme de Saint-Tropez – 1964)
O Gendarme se Casa (Le Gendarme se Marie – 1968)
“Um agente da ordem sempre é impopular”. A frase dita com austeridade pelo policial Cruchot, vivido por Louis de Funès, no primeiro filme da franquia, sintetiza sua hilária devoção ao trabalho. Quando é mostrado o sonho de seus atrapalhados colegas em um momento de lazer, ele é o único que não busca diversão, apenas a realização heroica de sua função na sociedade.
O ator francês que encantava o público com suas caras e bocas é mais conhecido no Brasil por “As Loucas Aventuras do Rabbi Jacob”, mas considero que sua contribuição mais relevante esteja nos seis projetos do Gendarme (policial), especialmente no primeiro e no terceiro, abordados neste texto, enriquecidos pela química em cena do protagonista com seu superior em comando, Gerber, vivido pelo impecável Michel Galabru, que anos depois defenderia o papel do político de “A Gaiola das Loucas”.
“Biquínis de Saint-Tropez” é irregular, mas tem sequências inesquecíveis, como a frenética transição do preto e branco para o colorido no início, um conturbado passeio de carro conduzido por uma freira e a odisseia dos policiais para prender um grupo de libertários na praia.
Após várias investidas desastrosas, prejudicados por um vigia sentado no galho de uma árvore, os oficiais recebem uma aula embasbacante de Cruchot, que traça a estratégia mais estúpida, algo que poderia muito bem ter saído da mente do Inspetor Clouseau, de Peter Sellers: Treinar os homens sem uniformes, para que se aproximem do local como vieram ao mundo.
Sem levantar suspeitas, eles lutam contra o tempo enquanto vestem seus trajes, abordam os meliantes e, num toque genial do roteiro, pedem seus documentos.
“O Gendarme se Casa” é muito superior em todos os sentidos, favorecido pela reviravolta que faz com que Cruchot tome o comando da tropa e passe a humilhar Gerber, provocando situações verdadeiramente engraçadas.
Ao atuar à paisana em uma missão de controle de velocidade nas estradas, o policial conhece uma bela viúva de coronel, vivida por Claude Gensac, que causa eletricidade estática com seu charme, conquistando o coração de quem, até aquele minuto, não conseguia pensar em qualquer coisa que não fosse seu trabalho.
Caso aprecie o trabalho de Funès nestes dois filmes, eu recomendo que veja também “A Grande Escapada” (La Grande Vadrouille, de 1966), obra-prima cômica dirigida por Gérard Oury, em que ele contracena com outro grande comediante francês, praticamente esquecido hoje, Bourvil.
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