O sistema político brasileiro é podre, reflete de forma
cristalina o modus operandi de grande parte do povo. Após décadas em estado de
coma, preocupado apenas com futebol e novela, o gigante acordou e saiu
tropeçando em tudo. A internet ajudou, o “público” que antes se
resumia aos vizinhos, familiares próximos e colegas de trabalho, aumentou
sobremaneira. Com péssima interpretação de texto, poupou tempo e se acostumou a
dissertar sobre qualquer tema a partir das manchetes, inclusive as falsas.
Nunca subestime a estupidez humana, saiba que existem pessoas alfabetizadas e
diplomadas neste momento elaborando planos para provar que a Terra é plana.
Ao negar a lucidez, abriu-se espaço para o sentimento mais
rasteiro e fácil, o ódio. A discussão política foi ganhando tons cada vez mais
agressivos, logo, os perigosos extremos foram potencializados. Adultos
infantilizados acreditam em qualquer teoria da conspiração e enxergam
“heróis” e “vilões” sem tons de cinza, nunca foi tão fácil
posar de indivíduo consciente, basta participar de manifestações e, claro,
postar várias fotos das esfuziantes caminhadas nas redes sociais. A intenção é
boa, mas não há como amadurecer o sonolento pensamento crítico político em
poucos anos, faz parte do processo agir de forma apatetada. Vista a bandeira do
país pela manhã nas ruas e passe o restante do seu dia somando no coro
rancoroso e desafinado dos vigilantes sonâmbulos, esbravejando frases de efeito
e piadas de duplo sentido, continue encarando a vida como uma revista em
quadrinhos de super-heróis, defenda que não há tempo para o hábito da leitura
enquanto acompanha por horas as fofocas divertidas nos seus duzentos grupos de
Whatsapp. É exatamente de pessoas como você que o sistema necessita para se
manter podre.
Finalizo com uma objetiva reflexão sobre os acontecimentos
históricos do final de semana. A defesa apaixonada de um político em nossa
sociedade é puro NONSENSE. É atitude para ser estudada com atenção, já que
membros de seitas são propensos ao comportamento de mulher de malandro. Lula é
o primeiro ex-presidente brasileiro preso por crime comum, inegável constatar
que a força simbólica disto é monumental. O clássico “no Brasil tudo acaba
em pizza”, que a minha geração cresceu escutando, finalmente parece que
está sendo reavaliado. O discurso de vitimização daqueles que endeusam seu guru
é constrangedor, não há como sustentar a tese da inocência messiânica com um pouco
de sensatez e uma dose generosa de vergonha na cara. O caso do triplex é, ao
que tudo indica, o menor dos problemas. Ele responde por quatro tipos de crime
em outros seis processos: corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização
criminosa e tráfico de influência. Al Capone tocou o terror em sua época, mas
só conseguiram prender ele por sonegação de impostos. E, com certeza, tinha
gente que também achava que ele havia sido injustiçado.
Não é momento de alegria, muito longe disto, estamos
atravessando momentos de profundo luto, apesar de haver esperança no
horizonte, testemunhamos nos últimos anos e, especialmente, nos últimos dias, a
incontestável falência de uma nação. Mas, nas palavras de Nietzsche: “Como
se renovar sem primeiro se tornar cinzas?”. É hora de, apoiado no cajado
da lucidez, o povo brasileiro decidir amadurecer.
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