Um Lugar Silencioso (A Quiet Place – 2018)
Em uma fazenda nos Estados Unidos, uma família do Meio-Oeste é perseguida por uma entidade fantasmagórica assustadora. Para se protegerem, eles devem permanecer em silêncio absoluto, a qualquer custo, pois o perigo é ativado pela percepção do som.
Começo o texto com uma observação importante sobre a experiência de se ver o filme na sala de cinema. “Um Lugar Silencioso” depende da educação do público. O conceito do silêncio trabalhado na trama, reforçado pela trilha sonora inteligente de Marco Beltrami, pode ser muito prejudicado pela deselegância habitual dos brasileiros.
Não há imersão que se sustente quando o coletivo é incapaz de respeitar a experiência, risinhos fora de hora, engraçadinhos carentes de atenção, esfomeados atacando saquinhos de biscoitos a todo momento, luzes de celulares espocando de todos os lados, a beleza da proposta da obra pode ser destruída em questão de minutos. Então, eu torço para que você tenha a sorte de pegar uma sessão vazia.
O gênero do terror consegue mais uma vez entregar uma pérola inestimável a partir de uma ideia simples: o planeta foi invadido inexplicavelmente por monstros extremamente ágeis que são atraídos por barulho, logo, para manter-se vivo você precisa ficar em silêncio.
O roteirista/diretor John Krasinski, que também protagoniza junto com Emily Blunt, sua esposa na vida real, acerta inicialmente ao se esquivar de qualquer contextualização, apostando na eficiência do medo potencializado pelo design de som e, principalmente, na metáfora defendida pela filha mais velha, vivida por Millicent Simmonds, atriz mirim que perdeu a audição aos doze meses de vida.
A menina se culpa pelo falecimento do irmão mais novo e é impedida pelos pais de visitar o sótão da casa, local em que estão armazenadas matérias em jornais sobre o fenômeno. A família é privilegiada por este diferencial, já que consegue se comunicar bem por sinais, habilidade que facilitou a adaptação nesta situação extrema.
E, sem revelar muito sobre a trama, vale destacar que a mensagem da superação ser alcançada pela aceitação da fragilidade/deficiência é potencializada no terceiro ato. A opção pela imagem que finaliza a obra pode ser tida por muitos como um tremendo desperdício, mas ela enfatiza o real interesse de Krasinski em estabelecer que a coragem precisa vencer o medo, ao invés da catarse cinematograficamente sedutora que qualquer produção similar entrega.
O diretor aposta também em elementos hitchcockianos brilhantes, como quando avisa o espectador sobre o perigo que os personagens ainda desconhecem, construindo um suspense verdadeiramente angustiante com objetos de cena ínfimos e aparentemente inofensivos, como um prego solto no degrau de uma escada.
“Um Lugar Silencioso” é, desde já, um dos melhores filmes do ano.
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