A Noite do Jogo (Game Night – 2018)
A comédia é um gênero maltratado na indústria norte-americana moderna, quando não são comédias românticas protagonizadas por robôs unidimensionais, temos escatologia em abundância e fórmulas desgastadas, em suma, entretenimento específico para pessoas muito pouco criteriosas.
O roteiro é a base dos problemas, sem boas ideias executadas com desenvoltura, o público fica refém do carisma do elenco. Com “A Noite do Jogo”, dirigido por Jonathan Goldstein e John Francis Daley, você é levado a lembrar dos tempos áureos em que Hollywood produzia pensando no público adulto.
O roteiro de Mark Perez utiliza generosamente referências cinematográficas, já que o casal protagonista, Annie (Rachel McAdams) e Max (Jason Bateman), é apaixonado por filmes e dominado pelo espírito de competitividade. A escolha do pôster do faroeste brutal “Meu Ódio Será Tua Herança” na sala ressalta a agressividade tolhida de indivíduos que, inseridos em um ambiente protegido de hipócrita tranquilidade, extravasam seus impulsos violentos em jogos inofensivos.
O tom é leve, mas há relevância na intensidade demonstrada por eles em cada momento de diversão em grupo. Não é apenas saudável antagonismo lúdico momentâneo, eles levam aquilo excessivamente a sério e, num toque brilhante do texto, chegam a aprender a se comunicar melhor através dos códigos da mímica. As cenas intencionam a simples risada, mas há uma camada de interpretação instigante que melhora a experiência em revisão. O vizinho policial (Jesse Plemons), frequentemente rejeitado pelo casal, não é o único com tendências psicóticas, apenas aquele que pior disfarça sua real natureza.
O irmão de Max, Brooks (Kyle Chandler), aparece com uma inovadora proposta, algo que irá desafiar os nervos do grupo, o jogo definitivo de mistério criminal. Brincadeira extrema para tempos extremos. Uma equipe contratada vai fingir um sequestro e os amigos precisam seguir pistas e encontrar a vítima. Aquele que solucionar o caso, vence a partida e recebe um espetacular automóvel. Claro que tudo irá dar errado da maneira mais hilária possível, com uso delicioso de humor negro e reviravoltas verdadeiramente surpreendentes. Até mesmo quando o filme opta por gags rasas, como numa sequência que envolve personagens com ânsia de vômito, o nível se mantém alto, especialmente porque o espectador é levado a se importar naturalmente com os percalços na louca jornada.
O terceiro ato quase se perde, trocando os pés pelas mãos, abusando um pouco da suspensão de descrença e prejudicando o ritmo, apesar de ser plenamente motivado pela ação. O desfecho, emoldurado pelo desenvolvimento dos protagonistas acima da média usual no gênero, satisfaz até mesmo os fãs mais desesperançados.
Cotação:
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Parece ser muito divertido.
Com certeza, após ler sua crítica, vou querer ver.
Ótima dica,Caruso! Como Sempre.
Vale a pena, Daniele. Veja e depois volte para dizer se gostou.
Grato sempre pelo carinho com o meu trabalho.
Bjão!