Críticas

“Entre-Laços”, de Naoko Ogigami

Entre-Laços (Karera ga honki de amu toki wa – 2017)

Depois de ser abandonada pela sua mãe, Tomo (Rinka Kakihara), uma pequena garotinha de 11 anos é acolhida por seu tio (Kenta Kiritani) e sua namorada, que é transexual. No primeiro momento a menina estranha essa nova relação familiar. Ao longo dos dias, Rinko (Toma Ikuta), namorada de seu tio, demonstra carinho e afeto por Tomo.

O maior acerto do roteiro é a forma como trata a relação entre o tio, a namorada transexual e a pequena sobrinha, indo na contramão da abordagem mais frequente que busca o choque travestido de orgulho. A gentileza é sempre o caminho mais breve e resistente para se conquistar respeito.

Trocando em miúdos, o pior que se pode fazer por uma causa é transformar o indivíduo em uma caricatura, por exemplo, os partidos políticos populistas/socialistas que defendem nas suas propagandas a imagem dos negros musicalmente envolvidos com o Hip-Hop das periferias, esquecendo que o Jazz, o Blues e o Soul, raízes elegantes e tecnicamente complexas, também tiveram a mesma origem. A criança negra pode aspirar a se tornar um MC, mas também pode querer estudar e ser o novo John Coltrane. Da mesma forma, boa parte dos filmes com esta temática aposta no contraste caricatural, no exótico, enxergando coragem e atitude no que, de fato, não passa de um simplismo aterrador e grosseiro. A diretora Naoko Ogigami é emocionalmente inteligente, focando na construção delicada de uma ponte sólida, ao invés de erguer um muro.

Rinko não força sua aceitação, estabelece sintonia com a menina através de pequenos gestos carinhosos, como colocar o cobertor no seu namorado, ou simplesmente demonstrar que não há pressa no processo de entendimento da menina, tudo deve acontecer naturalmente. Ao conhecer a mãe da nova tia, Tomo recebe a explicação mais direta e certeira sobre a sexualidade. A senhora explica com o semblante tranquilo que a filha, desde pequena, sempre foi “uma menina por dentro”. Mais tarde, a própria tia define sua situação com bom humor, dizendo: “Deus fez confusão quando me criou”.

Conversando com o tio, a menina descobre que o romance deles foi despertado por um evento comum, que, aos olhos insensíveis de muitos, poderia passar despercebido: a maneira cuidadosa com que Rinko, enfermeira, tratava de sua mãe fragilizada no hospital. A revelação posterior de que aquela pessoa incrível havia nascido com outro sexo era irrelevante.

A edição poderia ser um pouco mais impiedosa, o ritmo é excessivamente contemplativo e, por vezes, como no segundo ato, acaba prejudicando o impacto emocional de algumas cenas importantes. Problema pequeno, uma ilhota num oceano de intenso lirismo.

Cotação: 

* Você encontra o filme garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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  • ...amei todo o conteúdo do texto estamos precisando de mais filmes a respeito do assunto.... porque a nossa sociedade somente ira criticar, refletir e aceitar será pelo poder da mídia. Somos um povo preguiçoso na leitura, tenho exemplo de assuntos importante para leitura que disponibilizado na minha rede social e percebi que nenhum importância os meus amigos demonstram....quando a população assiste um filme ou novela e vem com um discurso preconceituoso . Com certeza é o momento para que possa chamar a refletir a respeito do seu preconceito camuflado ....vou ficar atenta para este filme e levar amigos para assistir...Abraço

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