Réquiem Para Sra. J (Rekvijem za gospodju J – 2015)
A história segue as vidas de quatro mulheres pertencentes a várias gerações diferentes: uma mãe viúva, suas duas filhas e sua sogra. A senhora J (Mirjana Karanovic), depois de perder seu emprego, não tem meios para sustentar sua família. Sua filha mais velha está grávida e a mais nova está atravessando um período complicado da puberdade. Ela então recorre à solução definitiva, planejando para que seu suicídio ocorra exatamente no dia do aniversário do enterro de seu marido.
Acompanhamos na trama uma mulher resignada, cuja melancolia excessiva incomoda outrem, até mesmo as pessoas mais próximas, talvez por realçar em seu olhar perdido o grande circo bizarro que é a experiência de se relacionar com a ideia da finitude, a contagem regressiva fisiológica para o nada, condição agravada pelo pesaroso processo do luto que a afastou de todas as ambições mundanas.
Há alguns toques de humor negro, especialmente na composição de algumas cenas, alicerçada no contraste radical entre comportamentos de diferentes peões no tabuleiro, que atingem o objetivo exatamente por serem trabalhados no diapasão austero bergmaniano. O design de som, utilizado com muita sutileza, criativamente agrega à construção sensorial desta mente em frangalhos, conduzindo o espectador a compartilhar o desconforto da protagonista.
O roteiro/direção do sérvio Bojan Vuletic é prejudicado no desfecho por uma opção melodramática sem brilho e incoerente com o tom estabelecido, a protagonista de “Réquiem Para Sra. J” diz muito mais em seus silêncios, admirados à distância pela câmera imóvel, incitando angústia, como que em impotente respeito por seu calvário pessoal, enquanto enfrenta a estupidez de uma sociedade sem alma e regida pela indiferente burocracia.
Ela, que já carregava o fardo destruidor da aceitação de uma existência sem sentido, percebe que lidar com a ganância do responsável pelo cemitério, renovar o seu seguro-saúde, ou simplesmente colocar sua fotografia na lápide do homem que amava, podem ser tarefas mais excruciantes e desumanizantes do que a desoladora apatia de uma morte em vida.
Cotação:
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