Para a preparação desta lista, todos os filmes foram revistos, logo, pude constatar que o teste do tempo foi ingrato com alguns títulos, enquanto outros, subestimados à época da estreia, surpreenderam positivamente. Os critérios utilizados: analisar como a obra funciona sozinha, como o roteiro se sustenta, os méritos da direção, e, claro, a sua eficiência enquanto entretenimento para o público em geral, não apenas para os fãs de quadrinhos. Escolhi tecer breves comentários, já que muitos dos filmes citados já receberam textos no “Devo Tudo ao Cinema”.
OBS: A lista será editada sempre que algum filme novo do MCU estrear.
23 – Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp – 2018)
Não há peso dramático (se você chorou vendo o final de “Guerra Infinita”, talvez considere exibição de complexidade dramática uma testa franzida com violinos ao fundo), toda tentativa de se criar tensão é boicotada por piadinhas, o tom é leve, descompromissado e tolo (como a segunda cena pós-créditos salienta). O mérito está nos efeitos visuais e na maneira como este recurso é utilizado inteligentemente nas mirabolantes sequências de ação, com destaque para a perseguição nas ruas de São Francisco. O roteiro é ajudado pelo carisma do protagonista, vivido por Paul Rudd, mas, de forma geral, potencializa os defeitos do primeiro filme, também dirigido por Peyton Reed.
22 – Capitã Marvel (Captain Marvel – 2019)
“Capitã Marvel”, mais uma bobagem da fórmula Marvel, cheia de pontas soltas, furos abismais de roteiro, inserções equivocadas de alívios cômicos, tudo calculadinho, empacotado para satisfazer a garotada menos criteriosa e, claro, “lacrar” (e lucrar) com a rasteira politização do feminismo na pauta política internacional. É um péssimo sinal quando algo que ocorre antes mesmo do filme iniciar, uma bela homenagem à Stan Lee, consegue ser mais impactante emocionalmente do que todo o restante da obra.
21 – Homem-Aranha: Longe de Casa (Spider-Man: Far from Home – 2019)
O herói, bastante descaracterizado em sua essência, é pouco mais que um acessório narrativo no atual universo cinematográfico Marvel, algo que fica mais evidente nesta nova produção. A subtrama romântica com a MJ da bela Zendaya simplesmente não funciona organicamente, não há química entre o casal, os alívios cômicos beiram o ridículo em várias cenas (perceba a quantidade de professores infantilizados), o valor do ingresso é justificado apenas nas sequências de ação, especialmente no terceiro ato, mérito obrigatório considerando a fortuna investida pelos executivos.
20 – O Incrível Hulk (The Incredible Hulk – 2008)
A trama é rasa, a motivação do vilão é tola, o herói não consegue sequer ser importante o suficiente para protagonizar o desfecho do próprio filme, responsabilidade que foi dada ao carismático Tony Stark, em uma cena desconectada da história principal, inserida antes dos créditos finais, denotando desleixo, falta de comprometimento e desespero dos produtores.
19 – Thor (2011)
O roteiro chega a ser constrangedor, especialmente após a chegada dos amigos do herói na cidade. As opções estilizadas do diretor Kenneth Branagh deixam tudo mais austero, algo que, por contraste com a fragilidade das emoções trabalhadas, acaba causando riso involuntário em alguns momentos.
18 – Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War – 2016)
Uma cena que define um dos grandes problemas do filme e deste formato adotado pela Marvel: o protagonista acaba de enterrar a mulher que mais amou na vida, ainda que ao analisar a tristeza no rosto de Chris Evans, exercitando a sua única variação de expressão, pareça a tristeza de um menino que viu quebrar seu videogame. Na missa, o seu colega percebe a presença da sobrinha jovem e bonita da falecida, o que o faz divertidamente chamar a atenção do viúvo, como o moleque travesso da escola que diz: que gatinha, olha lá. O roteiro não permite que nenhuma cena dramática finalize sem uma desconstrução bem-humorada. Até mesmo o aguardado embate entre os heróis divididos por ideologias, conceito que funciona apenas nos quadrinhos.
17 – Guardiões da Galáxia, Vol. 2 (Guardians of the Galaxy, Vol. 2 – 2017)
O primeiro havia funcionado exatamente por ser um ponto fora da curva na fórmula do universo Marvel no cinema, o foco estava na trama e na construção dos personagens, apoiando o humor no carisma de seu elenco. No Volume 2 não há foco narrativo, o ritmo se arrasta bastante no segundo ato, o humor, com poucas exceções, soa forçado e tolo, como nas piadas repetitivas sobre a aparência, ou o apelido de alguém, infantilizando ainda mais o material que, em essência, já é direcionado ao público infanto-juvenil.
16 – Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming – 2017)
Vou tentar entrar em contato a garotada esperta, público-alvo do roteiro. O filme é bacaninha quando homenageia as comédias adolescentes de John Hughes, tem um vilão maneiro que voa tipo o Homem de Ferro, mas ninguém se importa com a motivação dele, ele nem é chamado pelo nome dos quadrinhos, o grande barato é ver o Michael Keaton tendo chance de atuar de verdade em uma cena rapidinha, só uma, dentro de um carro, demais! A Tia May é bem gata, milf sensacional, mas, tipo, não tem função na história, ela tem o mesmo senso de humor de todos os coadjuvantes das produções Marvel, o mesmo timing, incrível! Tem o Robert Downey Jr. também, ele quebra um galho como uma versão hipster do Tio Ben, que, aliás, nem é citado, mas uma versão sem relevância, sem gravitas, batendo ponto para ajudar na bilheteria, defende o sermão daquele lance de “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, apesar da frase símbolo do herói nunca ser dita, mas como Tony Stark não tem nenhuma ligação emocional/familiar com o adolescente, perde qualquer potencial dramático que poderia representar no desenvolvimento do moleque.
15 – Thor – O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World – 2013)
Apesar do vilão Malekith ser uma bobagem pouco desenvolvida, as participações encantadoras de Natalie Portman e Kat Dennings elevam a qualidade do material. O conceito dos portais dimensionais é utilizado como inteligente alívio cômico. E Tom Hiddleston, como Loki, encontra o tom perfeito na caracterização, a linha tênue entre o humor e a tragédia.
14 – Homem-Formiga (Ant-Man – 2015)
O grande acerto do estúdio foi abraçar o personagem exótico com leveza despretensiosa. Mas, ao arriscar pouco, entregou um filme muito divertido, mas que é esquecido minutos depois da sessão.
13 – Doutor Estranho (Doctor Strange – 2016)
Um dos personagens mais interessantes da Marvel, o “Doutor Estranho” coube como luva nas mãos de Benedict Cumberbatch. O roteiro peca um pouco ao confortavelmente seguir a fórmula Marvel, prejudicando o terceiro ato, mas o carisma do protagonista e a criativa utilização da computação gráfica garantem o espetáculo.
12 – Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger – 2011)
O maior mérito do roteiro é focar sua atenção na pureza altruísta de Steve Rogers, simbolizada na cena em que ele, ainda mirrado, não pensa duas vezes antes de se jogar sobre a granada no treinamento militar. O diretor Joe Johnston capta com perfeição a ingenuidade da época.
11 – Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War – 2018)
O filme que deveria se chamar “Thanos”, apesar de fresco ainda na memória e lucrando alto nas bilheterias mundiais, entrega diversão épica na medida certa, mas, como todo crossover nos quadrinhos, não representa o ápice narrativo, não conta a melhor história. Como celebração de dez anos da Marvel no cinema, merece aplausos, mas simplesmente não funciona sozinho.
10 – Thor: Ragnarok (2017)
Os melhores filmes do estúdio carregam a marca autoral de seus diretores, como nesta homenagem divertidíssima de Taika Waititi ao legado de Jack Kirby, que, não apenas desconstrói o protagonista, mas também sabe rir do próprio universo em que está inserido. E ter a presença sempre fascinante de Jeff Goldblum no elenco ajuda bastante.
9 – Vingadores 2 – Era de Ultron (Avengers 2: Age of Ultron – 2015)
Muito criticado em sua estreia, o filme sobreviveu bem ao teste do tempo, propondo discussões interessantes sobre responsabilidade, o real sentido do heroísmo e, representado pelo personagem Visão, os valores essenciais da humanidade. O roteiro consegue até dar relevância ao personagem usualmente mais prejudicado da equipe, o Gavião Arqueiro.
8 – Homem de Ferro 3 (Iron Man 3 – 2013)
Este talvez seja o filme do estúdio que mais é beneficiado em revisão. A ideia do vilão Mandarim (Ben Kingsley) como um ator canastrão disfarçado é brilhante, além de ser uma crítica corajosa, traçando um óbvio paralelo com a figura de Bin Laden, essencial no esquema norte-americano para conquistar o objetivo petrolífero.
7 – Homem de Ferro 2 (Iron Man 2 – 2010)
O roteiro espetacular de Justin Theroux é usualmente esquecido, a verve irônica nos diálogos, a naturalidade contagiante na interação entre os personagens e, claro, a presença imponente de Mickey Rourke como o vilão Chicote Negro.
6 – Os Vingadores (The Avengers – 2012)
O planejamento cuidadoso do estúdio nos anos anteriores se refletiu neste resultado empolgante, que faz com que todos os adultos reencontrem suas crianças internas. Repleto de cenas inesquecíveis, foi o sonho realizado de toda uma geração que cresceu lendo “Superaventuras Marvel”.
5 – Capitão América 2 – O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier – 2014)
As coreografias nas cenas de luta, pela primeira (e única) vez nos filmes do estúdio, realmente transmitem impacto real, senso de perigo, algo fundamental na trama. Há maior maturidade na forma como as motivações dos personagens são trabalhadas, agregando camadas de interpretação e tons de cinza.
4 – Vingadores – Ultimato (Avengers: Endgame – 2019)
Analisando em retrospectiva, o todo é levemente inferior à “Guerra Infinita”, “Guardiões da Galáxia” e boa parte dos filmes solo, mas um elemento precioso em “Ultimato” faz toda diferença, posiciona este épico de três horas de duração acima dos já citados, o coração que pulsa a todo minuto e contagia sobremaneira o espectador. Cinema também é paixão, não apenas dos cinéfilos, mas, principalmente, daqueles diretamente envolvidos com as produções. O amor exala pelos poros, transforma o case de sucesso empresarial para vender brinquedos em algo intimista, contemplativo, até audaciosamente autoral.
3 – Homem de Ferro (Iron Man – 2008)
O primeiro filme do estúdio, ainda que modesto em escala, conta uma história fascinante, defendida por um ator carismático que nasceu para viver Tony Stark. Robert Downey Jr. é o responsável por existir hoje um universo cinematográfico Marvel.
2 – Pantera Negra (Black Panther – 2018)
Longe de constar no panteão dos heróis da Marvel, o Pantera Negra teve a sorte de contar com um roteiro impecável, que apresenta e estabelece com personalidade cativante seus personagens, que soam orgânicos e críveis. A sua mensagem é esperançosa, mas a crítica que propõe é severa. Uma aula de como produzir uma obra de puro escapismo no gênero sem subestimar a inteligência do público.
1 – Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy – 2014)
Ao se conectar com seu passado através de um objeto tão frágil como um toca-fitas, Quill (Chris Pratt) nos evidencia que sua anarquia é uma resposta imatura para os obstáculos da vida adulta. A lembrança triste da morte de sua infância, com seu desapegar forçado da mãe, não pode ser empecilho para a aceitação de sua missão ao lado de seus novos amigos. Somente quando ele abraça essa constatação, optando por verter a lágrima ao invés de retê-la, o jovem se mostra preparado para singrar o espaço sideral, como Luke Skywalker ao aceitar deixar seu conforto para acompanhar Ben Kenobi. O diretor James Gunn injeta frescor no clássico conto de amadurecimento que se repete a cada geração. “Nós somos Groot”, nunca uma mensagem tão profunda foi transmitida de forma tão singela e divertida.
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