Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War – 2018)
O problema narrativo que acompanha quase todos os projetos do Universo Cinematográfico Marvel se repete em “Guerra Infinita”, apesar de todos os esforços louváveis dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely em injetar reviravoltas trágicas, o próprio esquema industrial megalomaníaco idealizado pelo produtor Kevin Feige acaba boicotando o investimento emocional necessário, logo, os momentos mais sombrios não exibem a maturidade que deveriam ter, podem ser comparados à xingamentos de criança querendo chamar atenção e mostrar que já é grandinha. Se você conhece minimamente as convenções dos quadrinhos de super-heróis, analisando a lista de lançamentos futuros agendados, já vai captar todos os passos que serão dados nas próximas aventuras para reverter o aparente caos que o desfecho da obra entrega. Sem gravitas orgânico, sem peso, apenas esporádicos rompantes que destoam completamente do tom dominante, seguidos rapidamente por sequências leves, tática do “morde e assopra”, defendidas por personagens que são afinados no mesmo diapasão cômico, não há senso de consequência real para as ações.
É inegável que os melhores resultados foram obtidos com tramas que sobreviviam sozinhas, como “Guardiões da Galáxia” e o recente “Pantera Negra”. A obrigatoriedade de mesclar as histórias e pensar caminhos em longo prazo pode agradar os fãs, transportando para a tela grande a estrutura serializada televisiva, mas, enquanto cinema puro, não passa de um campo minado, terreno fértil para furos e incoerências. Com tantas subtramas, cenários e personagens em jogo, além da obrigatoriedade de dar espaço para longas sequências de ação, não é possível sintetizar tudo de forma coesa em pouco mais de um par de horas, por conseguinte, “Guerra Infinita” não é um projeto pensado para funcionar sozinho, boa parte dos personagens já tiveram suas motivações trabalhadas em seus filmes de origem, realizadas por outros roteiristas e diretores. Mas há um elemento fundamental que foge à análise crítica e fala mais ao coração, a saga que se iniciou modestamente em 2008, com “Homem de Ferro”, cumpre brilhantemente sua função. Quando entendemos a proposta-base, filmes pensados para o público infanto-juvenil, que podem servir como ponte para a apreciação dos personagens nos quadrinhos, enxergamos o valor do tremendo desafio que esta equipe gigantesca aceitou viver. E, deixando de lado um pouco o profissional consciente hoje dos truques do mágico, vou dar voz ao adolescente interno que ama quadrinhos e cresceu sonhando em ver seus heróis em carne e osso.
Thanos (Josh Brolin) é o grande protagonista, acerto memorável do estúdio, um titã que aparentemente deseja o controle total do universo. Caso consiga as seis joias do infinito em sua manopla, ele pode aniquilar metade do universo com um simples estalar de dedos. Em teoria, pode parecer um vilão tolo, unidimensional, mas neste ponto o roteiro demonstra tremenda sensibilidade. Ao inserir na equação o surpreendente (até para ele) sentimento que nutre pela filha de criação, Gamora (Zoë Saldaña), agrega camadas de interpretação importantes em seu desenvolvimento. E se analisarmos friamente a motivação de seu plano, podemos até argumentar que suas intenções são nobres. Este detalhe, aliado ao trabalho técnico impecável na computação gráfica, ajuda a dar intensidade genuína a cada aparição dele em cena, tornando crível a sua ameaça, que não é apenas física. Qualquer informação sobre os demais personagens vai revelar aspectos importantes da trama, spoilers, ponto que diz muito sobre a natureza serializada da franquia. Vale ressaltar que o 3D prejudica demais a fotografia de Trent Opaloch, várias cenas ficam muito escuras, eu recomendo que, caso seja possível, você veja em 2D.
A primeira hora é empolgante, equilibrando bem o humor, o drama e o senso de aventura. No segundo ato, a partir da ida dos heróis para Wakanda, o ritmo é quebrado, algumas situações exploradas de forma rasa acabam prejudicando a fluidez, mas o interesse se renova nos últimos trinta minutos. Assim como nos quadrinhos, os crossovers não representam o ápice narrativo, não contam as melhores histórias, servem apenas para reunir todos os heróis em um conflito de proporções gigantescas. Ao final da sessão, com algumas ressalvas, eu aplaudo de pé esta épica celebração de dez anos da Marvel no cinema.
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