Hereditário (Hereditary – 2018)
O meu gênero de formação é o terror, estudo desde a pré-adolescência, logo, fico incomodado quando vejo tentativas tolas de rotular obras como “o mais assustador desde…”, ou aquela bobagem que vários veículos defendem, o “pós-terror”, idealizado por um crítico norte-americano com rasa bagagem cultural, já que desconhece que filmes com esta pegada menos imediatista, que não se debruçam nos sustos, sempre existiram.
Os rótulos são reducionistas e prejudicam o material. Esta tolice serve apenas para a produção de manchetes. E, claro, dá pano para a manga de vários youtubers, vídeos “explicando o final”, sintomático de como o público ficou preguiçoso e emburreceu nas últimas décadas.
A distribuidora A24 está espertamente aproveitando a demanda, entregou recentemente “A Bruxa” e “A Ghost Story”, dois ótimos projetos. Agora ela retorna com “Hereditário”, roteirizado/dirigido pelo estreante Ari Aster.
Na trama, após a morte da reclusa avó, a família Graham continua a sentir sua presença, especialmente sua solitária neta adolescente, Charlie (Milly Shapiro), por quem ela sempre manteve uma fascinação pouco comum. Sem revelar pontos importantes, vale ressaltar que a tensão é constante, a construção de clima é impecável desde os primeiros minutos. É terror pensado para adultos, na linha de clássicos como “O Bebê de Rosemary”, “O Exorcista” e “A Profecia”.
Se você gosta de jump scares, vai se frustrar, o suspense é trabalhado com inteligência, sem subestimar a inteligência do público. Após a sessão, refletindo sobre os acontecimentos, a história se torna ainda mais aterrorizante, algo raro nas produções modernas no gênero.
A proposta de Aster injeta na metáfora demoníaca a fragilidade de uma família ao atravessar o processo de luto, evidenciando aspecto menos otimista que o usual fortalecimento dos laços afetivos em tempo de crise, explorado em quase todo “final feliz” hollywoodiano. Na realidade, como explicitado em uma fala da mãe, vivida brilhantemente por Toni Collette, poucos aceitam as responsabilidades após eventos trágicos. O senso familiar acaba ruindo em pouco tempo, conduzindo todos ao desespero. É curioso perceber que a mãe artesanalmente recria situações do cotidiano em suas maquetes, leitmotiv da obra, a tentativa incansável de manter o controle de sua realidade, consciente de que ela se esvai por entre os dedos.
Os elementos sobrenaturais representam a perda gradativa do controle emocional dos indivíduos naquele microcosmo, ao mesmo tempo em que vamos descobrindo que há hereditariedade em problemas psicológicos graves naquela árvore genealógica. A forma como o roteiro propõe estas alegorias é sensorialmente eficiente, com a fotografia de Pawel Pogorzelski, abusando da lente grande angular, utilizando o sugestionamento e as sombras.
O impacto é forte exatamente porque o tema, por baixo da camada surreal, fala diretamente às angústias devastadoras que todos nós compartilhamos. O desfecho peca apenas pela simplificação, esvaziando a simbologia operada até o momento.
Cotação:
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